Monte de escombros e assombros


Semana passada, confraternização, pororocas mil, se pudesse poupar adjetivos, minha terra tem palmeiras, coríntians, carnaval, lula, vizinhos, tevê.

Sou igual a nove entre dez estrelas do cinema. Vivo encarcerado no meu mundinho de fantasmas e fantasias. Quebro a cara quando me vejo obrigado a botar os pés fora dele. Não há o gente ó não luar como este do sertão.

Conviver é o que há de melhor e de pior. Descobri, ano passado, que sou misantropo. À la Thomas Bernhard. Escrevo que nem nenê. Molecote de sete anos. Deve ser por isso que tem dia é tão difícil. Em que pesem os ditirambos de Thomas Mann, Kierkegaard, a respeito, a infância é barra pesadérrima. Para Graciliano, príncipe das letras idolatradas, quebra o espinhaço do bípede logo cedo que é para não deixar passar despercebida a lição da "experiência".

Semana passada encontro com amigos. Pessoas de verdade me dão tédio mortal. A previsibilidade do que vão dizer e do que vão fazer é um pesadelo. A mesquinhez, mon dieu. A mesquinhez das pessoas de verdade é abissal, não cabe neste universão entulhado de galáxias à deriva à minha procura no infinito. Não tenho uma gota de paciência com os papos furados. A bosteira de ideologia que está tomando o lugar da religião herdada, os espertinhos que tentam negar o atavismo, bazófia de peritos na anodinia do cruel cotidiano.

Quando começa assim, olha, não sei você, mas eu não acredito em deus, prontamente erijo um muro de pedra por dentro, tentando me preparar, se segura que lá vem merda.

Conviver, ser obrigado a "participar" dos rituais que essa gente inventa para não abrir as pernas 50 vezes ao dia, é um pesadelo excruciante. Por ter trauma do parto, a previsibilidade da tragédia humana em geral e da minha em particular, ainda trago na memória o instante endemoniado em que fui brutalmente arrancado do tépido e aconchegante ventre de mamãe, esses gurus da tecnologia que vivem inventando trastes bem que podiam fabricar úteros artificiais para nós adultos sem chance neste mundo abandonado pelos deuses, você entrava, fechava o zíper, hibernava até apodrecer, me recuso a tomar parte no Soporífero Teatro Humano, peço que cavalheiros e madames falem baixinho, que preciso dormir.

Cara, pensava que já conhecesse tudo e todos, mas depois que descobri Witold Gombrowicz, polaco que se escafedeu para a Argentina um mês antes da Segunda Guerra – conheci pessoalmente uma cacetada de europeus fugidos da guerra, polacos, alemães, judeus, tive um amigo ucraniano, Oleg, crânio em química, hoje deve ser diretor d'alguma dessas multis que matam rios e mares mundão afora, nosso sonho quando fôssemos adultos construiríamos um Impala rabo-de-peixe de seis faróis, eu achava que todos os seis deviam ficar em linha, Oleg não, deviam formar triângulos para não ficar feio –, Gombrowicz tem um texto contra los poetas e de que sempre falo em que começa se desculpando por não dominar o castelhano para em seguida soltar que A veces me gustaría mandar todos los escritores del mundo al extranjero, fuera de su propio idioma y fuera de todo ornamento y filigranas verbales para comprobar qué quedará de ellos entonces.

Depois arreganha:

Por qué no me gusta la poesía pura? Por las mismas razones por las cuales no me gusta el azúcar "puro". El azúcar encanta cuando lo tomamos junto con el café pero nadie se comería un plato de azúcar: sería ya demasiado. Es el exceso lo que cansa en la poesía: exceso de la poesía, exceso de palabras poéticas, exceso de metáforas, exceso de nobleza, exceso de depuración y de condensación que asemejan los versos a un producto químico.

E madame e cavalheiro ainda achavam que ninguém em sã consciência poderia ser contra os poetas.

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