Orelhas sempre alertas


Sejamos desonestos:
Pessoas há que me dão vontade de beber.
Pessoas há que me dão vontade de morrer.
Pessoas há que não me dão vontade de nada.
Pessoas há -- ah inalcançável, inatingível delícia -- que me dão vontade de amar.


Você espera que eu minta, bien sûr.


Sou um mentiroso que não sabe mentir.
Minto: sei.
Mas sou um mentiroso incapaz de mentir.
Não sei.
Não posso.
Tento. Naturalmente.
O resultado é tão grotesco.


Parecer grotesco é tão vergonhoso.


Okay, as pessoas em geral não dão a mínima
pareçam ou deixem de parecer.
Grotescas, patéticas, festivas, insensatas.
Fôdasse.
Ou melhor: sorry, nada há a foder aqui.


As pessoas almejam ardorosamente a ser.
O que quer que seja.


Entre ser e não ser, você acha que lhe seria aceitável ser um mendigo da rua Martins Fontes se não pudesse ser outra coisa mais digna, menos dolorosa, menos insuportável de ser?


Há pessoas que me dão vontade de beber.
Pessoas há que me dão vontade de morrer.


Que vontade será que dou em alguém que passa por mim na calçada?
Sei que sim.
Sei que dou.
Não sou, não posso ser o único ser vivo que não desperta absolutamente nada 
Entre seus semelhantes.

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