Você quer dizer "Allegretto Molto de João Sebastião"

Não lembro mais do dia dos meus anos. Diga, isto é sinal de amadurecimento, demência crônica ou realismo?

Sempre pulei.

Quando fiz 14 mamãe chamou a parentada, alguns amigos da família, uns vizinhos, umas figuras estranhas que na hora não identifiquei mas cuja origem e propósitos na festa de aniversário penso vir desvendando ao longo das décadas.

Mamãe comprou um bolo na padaria em frente (que depois se revelou estragado, para azar do português que não soube como responder quando confrontado com a flagorosa evidência. Constatei então que, senhores dominantes dos mares no século 16, os lusitanos ou não davam pelota para bolos estragados ou ainda dominavam a técnica de impedir a deterioração da massa, mesmo com a geladeira desligada sob os quase 35 graus dos trópicos).

Então mamãe enfiou uma velinha de 1 e outra de 4 na cobertura e alguém apagou a luz e, antes que ela puxasse as palmas para dominar a festa, pedi: deixa que eu acendo.

Matrona, ela torceu o nariz. Pretendia, como sempre,  o comando cabal. Mas como era meu aniversário, aquiesceu.

Incendiei os dois pavis e veio o estrondeante parabéns-a-você-nesta-data-querida-muitas-felicidades-muitos-anos-de-vida-é-pique-pique-pique.

Acenderam a luz.

As velinhas estavam trocadas. Fazendo um 41. Todo mundo riu menos eu. Me pareceu tão lógico e natural, apenas mais um insight em mais um dia meu formado apenas de insights que para os outros nunca prestaram para nada e para mim é o que têm (sic) me salvado so far.

Qual Pessoa, hoje não comemoro nem 14 nem 41.

Qual sei lá quem, não penso em inverter minhas velas apagadas há décadas. O aniversário que eu queria ter guardado mesmo era/foi o dia em que tudo perdeu o sentido. De que só me dei conta sei lá quantos anos depois quando já era impossível saber.

Naquela data eu teria dado uma festa.

E, se me perguntassem, teria pedido um tiro de presente.

Não acho que teriam coragem de mo dar. É muito mais fácil, seguro, são matar um pobre coitado à base de festas de aniversário.

Me diga: terei tido sorte ou azar até aqui?

Um tiro é demasiadamente traumático. E libertador, se pegar bem no alvo.

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