Allegretto
Tem uns tunezinhos populares aí que mereciam
interpretação dum cantor competente. Caetano rei dos baianos garimpou umas
pepitas que me falam à alma, levando às vezes às lágrimas o brutamontes que
carrego aqui e acolá oculto sob esta caparaça de delicadeza e flor. E.g., Shy Moon. Pero quando o cara solta aquele "glow thru de puóóóllution" a
cantiga perde um pouco a graça. Nem o professor britânico logrou desentortar os
versos vertidos pelo nariz. Escuto, fico wondering como soaria Ted Hughes
declamando Gonçalves Dias. Até meu último dia de vida neste paraíso perdido vou
defender que Nassau e seus vítreos olhos de turmalina devia ter botado os
portugas pra correr.
Não carecia um tenor profissional cursado na escola
de música da USP. Às vezes boto na vitrola do meu computador Yesterday de
McCartney, cantado pelo unbelievable Plácido Domingos. A primeira vez que ouvi
fiquei enojado. Overkill. A ingenuidade infantil dos Beatles vai pras picas, só
fica o drama do oh i believe in yesterday, chega a doer um tico uma dor de
verdade. Enojado, contive o ímpeto de apagar o arquivo. Às vezes ponho um
trechinho, vou me acostumando aos poucos. É dureza, Plácido nasceu pra Wagner.
Shy Moon cum intérprete decente seria uma obrinha-prima reconhecida como tal.
Um que pelo menos limpasse os mortais, tiritantes vibratos que a vozinha de Caetano não
consegue suprimir. Depois do modernismo cada um na sua, ocá. Legal é artista
interpretar a própria obra.
Trilhos urbanos e Qualquer coisa são colossais. Não
topo muito o tipinho de poeta de calculadora na mão encenado por Caetano. As
polêmicas de araque que ele arma uma semana antes de lançar um disco são, no
patois da nossa empregada Quitéria com quem aprendi linguística, execráveis.
Cajuína, que compôs para o kamikaze Torquato Neto, que se matou qual todo
poeta que se preze, é quase digna de João Cabral. No tête-à-tête com Chico,
fico com o lulomalufista, vai entender, Chico devia ler Sérgio Buarque de Hollanda,
cujos originais deve ter na estante da sala, e aprender umas coisinhas sobre os
mecanismos que regem este nosso mundo à beira do colapso final. Vai entender. O
filho de Serjão borrifou no manto da música pepitas em maior número que reluzem mais por mais tempo.
Tropicália, acometida da chatice de todo manifesto, é do arraso.
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