Fico tentando me responder um montão de coisas que fico
me perguntando. Aquelas coisas que só eu sou capaz de me perguntar, me
pergunto, cada frase que escrevo, como deve ficar em alemão, françois, italien,
pound, ezra, preconizava, leia o poema em voz alta para sacar o ritmo e a
sonoridade antes de aprender o significado das palavras, estudou 15 idiomas
esdrúxulos só pra ler poesia no original, que sei eu, às vezes me pergunto quanto que intelectual faz por pura obsessão é infrutífero, os field
brothers macaquearam, larilá-lirali, me pergunto por que a crítica literária
ocupa tamanho espaço nas cabecinhas vazias da molecada, é tudo tão demodê,
wilde, o papel das classes baixas é ensinar ética às altas, frazões legais,
desconfio que tudo vá acabar logo agora, inglês, já está bom pra quem é tão próximo
do macaco, a garotada indigente que escuta essa "música" indigente
beeeeerrrrandooo motherfuckeeeer!, matuto aquela Lista das Palavras Proibidas,
pinga uma a uma lá dentro, formam estalactites, estalagmites na gruta oca,
ribombadejante do meu crânio, não tenho mais medo de me perder ou perder o que
tenho, preciso escrever o que for, não posso me preocupar por não
"soar", ping, verdadeiro, não me sinto, quando não me sinto as
palavras não acontecem, sou um logogigolô, estou deixando de viver minha vida
para viver as delas, estava descendo a escada correndo, dei com ela entre o
sexto e quinto andar, ri, desviei os olhos tímido, quis dizer algo, procurei o
canto da parede tentando passar, ela me cercou, ergui os olhos meio espantado,
ela riu zombando, espichou as sobrancelhas, esperando, com licença, pedi
encabulado, por que a pressa, ela disse, pousou a mão direita no meu braço
esquerdo, meu coraçãozinho enfermo de volúpia, despadaçado em mil amores
solitários fez menção de juntar os caquinhos, vem comigo, ela agarrou meu
braço, puxou, subindo a escada de volta para o sexto andar, entrou no apê ainda
me rebocando inerme, fechou a porta, trancou, me largou se afastando uns
passinhos para trás, deixou os braços alinhados ao longo do corpinho, quero dar
pra você desde o primeiro dia que te vi, saiu assim num jato, me ocorreu,
lariri-lirará, saramago de novo, aquela busca da correção definitiva, desde a
primeira vez hoje, fiquei tentando escorraçar da cabeça a proposta, o único
jeito era desdenhar da terra prometida, olhei em volta a sala, tevê, sofá,
poltronas, estante cheia de porta-retratos, frasquinhos, caixinhas, potinhos,
latinhas, no centro uma mesa de centro de tampo de vidro, na mesa uma bandeja
indígena cuma penca de bananas, posso comer uma, pedi apontando, vou avançando
aos poquinhos, tateando pela sala dela sem destino certo, na cabeça um plano
secreto para mudar de vida, incluindo uma variedade de medidas, entre as quais
reformular os conceitos que tão carinhosamente venho acalentando qual
filhotinhos sugano pacientemente o leite amargo que lhes posso oferecer, de
súbito, sem que haja uma razão palpável, os bichinhos virariam medonhas feras e
sob meu comando desempatariam a luta a meu favor, bem como, bem como outras
medidas, uma, que às vezes considero a mais importante, outras, a mais
insignificante, começar a ganhar dinheiro, real money, como dizem os irmãos do
norte em sua lucrativa sapiência, não a esmola que a maioria de nós consegue
penosamente arrancar do mundo para não morrer à mingua, quando penso nessa
medida, ganhar grana, em geral não desenvolvo a idéia, ao contrário da maioria
dos seres humanos, não me ponho a delirar com as oportunidades que o dinheiro
me abriria, viagens, mercedão pra estacionar em frente de casa, tacar a mão na
buzina chamando a atenção dos vizinhos para que enfim vejam quem é o papai
aqui, não sei por que, nunca chego nisso, me limito ao sonho de enriquecer, sem
saber exatamente para que, não que condene os que vivem para faturar, que se
afoguem na grana, não vou ser ingênuo pra começar pela milésima vez essa
discussão, já que cheguei aqui, vou esticar o assunto mais um pouco, se
ganhasse uma grana preta, não só viajaria o mundo todo, sairia correndo para
comprar um porschão, também cobriria as paredes da sala da minha mansão com
volpis, bandeiras, iberês, pancettis, goeldis, faria isso mesmo tendo certeza,
cem por cento de certeza, de que mais dia menos dia ficaria de saco cheio,
cheiérrimo de olhar aqueles troféus pecuniários, simplesmente botaria fogo na
tralha, se minhas posses mo permitissem contrataria uma orquestra sinfônica
para que a queima fosse executada ao som de royal fireworks music, que jorge I
encomendou a händel para celebrar o tratado de aachen em 1748, e como jorge I
deve ter feito várias vezes, sem mais nem menos bateria palmas no meio da
execução, mandaria os músicos embora alegando dor de cabeça, se reis podem
mandar händel ficar quieto, eu posso muito bem mandar volpi pegar suas
bandeirinhas, pegar e fazer quermesse no inferno, dono de obra de arte tem o
direito de destruí-la? Tem? Tem, tem sim, às vezes a música, mesmo meu
dulcíssimo ludwig van, ludwig van, me dá dor de cabeça, tem muitas outras
coisas que eu faria se rico, rico daqueles de escorrer ouro com o muco do
nariz, a segunda ou terceira seria virar protestante, sempre quis, na infância
tínhamos uns parentes distantes que nos visitavam muito esporadicamente,
protestantes, nada a ver com esses evangélicos que hoje em dia vivem pra
baixo/cima, bíblia debaixo do braço torrando o meu sacro saco, não,
protestantes de verdade, não que, sendo tão criança, eu soubesse o que fosse um
protestante, lembro de ter sacado imediatamente a serenidade, o bom-senso que
pareciam exalar pelos poros, me faziam acreditar que o mundo não era o
purgatório em que minha família visceralmente católica me fizera acreditar, tão
logo me convertesse ao protestantismo fundaria uma entidade de combate à aids,
enchendo ainda mais o rabo de grana, era nisso que eu pensava, perdidaço pela
sala dela, quando não pude deixar de reparar naquela cigarreira na mesinha de
canto num canto, olho para ela, mulher sóbria, lúcida, responsável, outros
adjetivos esquizogenéticos mais, doidinha pra chifrar o maridinho-tadinho,
mulher tem um prazer doentio em sacanear o marido, deve dar mais tesão na cama,
a! a liberdade da promiscuidade animal prenha de promessas insondáveis, foder
na mais pura acepção enquanto todos vão rumando no bom sentido, nenhum em
sentido contrário, depois que eu der tchau ela vai se voltar, me olhar pelas
costas, olha, só sei que precisa muita solidão pra chegar nesta idade neste
estado, somos um cemitério de cadáveres ambulantes parlantes pensantes,
pinoshit, me lanzaron de cabeza neste asilo de catatônicos, quac, há alguém
vivo aqui? manja em volta, três ou quatro livrinhos de, quac, filosofia
oriental, holística, falácia, medicina alternativa, feminismo, técnicas de
ofurô, os males que o mequedonos, como é teu nome mesmo? cáspite, cibele, vamos
dar umas risadas antes do ato em, ui, si, sendo que, ó mãe, a hors-concours, dieu,
ela tem seios postiços, não posso crer nos meus dedos, ninguém diz
seios, ninguém escreve seios, ninguém pensa seios, o colesterol mental
vai me matando, esse mequetrefe silicônico aí, ninguém que se ache alguém diz seios,
acorda capitão, sai dessa placenta fóssil, sacoleja o cérebro espantando esse
estado letárgico de diletante em estado fetal de conforto, sakudindo o rabo,
espanando o pó, tascando o pé, passa esse miolo pra segunda, acho que você não
compreendeu, ela disse, tarde de domingo, sacumé, minha folga etílica, minha
folga sexual, se você não me comer vou começar a gritar, ela ameaçou, coisa que
não tolero é virago, mamãe fez um good job, tenho medo de mulher, pronto, é,
sou foda, não meço meus atos, vou até onde for preciso, olha, sou anti-social,
de repente me sinto desonerado, avanço até a janela, jogo a casca de banana,
fico assistindo aterrisar na capota dum carro na rua, lembrei que tinha de ir
ao cartório autenticar uma fotocópia, sou foda, quando quero ser mau, realmente
mau, sai debaixo.
alucinante!
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