Vamos largar a mão de frescura?

Vem cá.
Falar de anjo?
Já deu.
Não deu?
De singelices?
Também.
Experienciazinhas de meninas-princesas?
Quem me dera.

De que podemos falar, então?

Bem, você sabe, duma infinidade de coisas.

Mas sejamos sistemáticos.

(Você nunca é, eu sei. Pois não existem sistemas nisso que você chama de "coração", deliberadamente confundindo o centro sentimental da humanidade com o músculo cardíaco da anatomia. Sim, você é romântica. Mas quem não é? Se até o mais determinado dos suicidas é?)

Do que falávamos mesmo?

Dos anjos.

Pra variar.

Por que falamos tanto dos anjos afinal?

Nem sabemos se os malditos existem.

Sabemos?

Não, não sabemos, minha cara.

Reconheça.

Admita.

Você se amarra em falar do que não conhece.

Sim, é gostoso, eu sei.

Responsabilidade zero.

Não há risco de o PROCON te comer o rabo.

Não me diga que você gostaria que alguém lhe comesse o rabo.

Alguém?

Assim tão incógnito?

Não, não me diga que você prefere a acidentalidade dos acasos nas ruas de Sampa!

Seremos todos, depois de cinco mil anos de civilização, ainda tão animalescos?

Machos e fêmeas, fêmeas e machos, nada mais que machos e machos e fêmeas e fêmeas?

Quero crer que não.

Voltemos aos anjos.

Se pudesse falar cum anjo, com qual você falaria?

Eu, com mamãe.

Mamãe.

Tá me escutando?

Mã, olha, são mais de cinquenta anos de roupa suja.

Na sua época era só sabão em pedra, eu sei.

Não existia Omo hipersuper concentrado.

Sei também que a histórica afinidade entre as gerações se pulverizou qual garoa ricocheteando nas calçadas.

Um poeta digno do nome na certa comprimiria esta lenga-lenga em duas sílabas.

Mas veja mamãe.

Você não pariu um poeta digno do nome nem digno de merda nenhuma.

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