Uma das
maiores desvantagens de não acreditar (ou “crer”, se você pende para o
sofisticado alienante) em deus é não poder dizer (ou “exclamar”, se você é dado
ao teatral) “Deus me livre!”, “Se deus quiser!”, “Deus tende piedade (de
mim, de você, dos eleitores de Lula) e por aí afora.
O descrente
(ou ímpio ou ateu) é mais infeliz que o crente (considerando que todos somos
infelizes em maior ou menor grau), pois parte do pressuposto (ó deus) de que é
antes de tudo um ser racional e, como tal, se acha imune aos efeitos das
crendices, sem levar em conta que seu ateísmo pode simplesmente ser uma crença
com os sinais invertidos.
Mas quem tá
mesmo num mato sem cachorro é o agnóstico.
O agnóstico,
dos três, é o mais pretensioso.
Se pretende,
dum lado, suficientemente ignorante e, como tal, não se pretende sabichão (com
perdão do joguinho de palavras acidental) e, do outro, esperto o bastante para
não cair na lorota de discutir o sexo dos anjos, a precedência do ovo ou da
galinha e outras causas perdidas da lógica.
O agnóstico
evita entrar no mérito. Como resultado, deixa a bola dividida para os dois
primeiros gêneros, o ateu eu eu e o créu éu éu.
Em sua
suposta isenção eivada de prudência, moderação e reconhecimento da fraqueza
humana, o agnóstico decara de clara, digo, declara de cara que não há lógica em
ser ilógico qual o irracionalista religioso nem em refutar o princípio de que,
antes de tudo, somos essencialmente ignorantes e, assim, incapazes de saber o
que somos e, sobretudo, o que pensamos exatamente.
Sei que este
meu arrazoado soa como um artefato tributário da embananação mistificante.
Mas, se você
ler direitinho, vai ver que tem a ver.
Você já viu
um pensador que escreva simples e claro ser reconhecido?
Pois é.
Eu, crentes,
ímpios, agnósticos: tudo a ver.
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