Não levo qualquer homem ou mulher para a cama


Sou (bem) seletivo.
Não durmo – nem nunca dormi – com qualquer um ou qualquer uma.
Homens, quero-os de aparência frágil, do tipo que você sequer nota ao cruzar numa calçada. Mas que têm esse dom quase sobrenatural de me conquistarem no mesmo ato em que abrem a boca.
Mulheres, prefiro-as misteriosas qual a miragem do amanhecer, nebulosas feito a essência duma tarde que prenuncia a chuva, obscuras como a decadência da luz do sol, pasmas, perplexas, perturbadas como a embriaguês inspirada duma anarquia noturna.
Deitei com mil homens e mil mulheres. Crianças e velhos, adolescentes e anciãs. Sou absolutamente promíscuo.
Dormi com senhores de terno e gravata com a voz íntima dum padre no confessionário e os gestos estudados e discretos do diplomata profissional. Amei com brutos selvagens a vociferar sedentos de vida, fiz amor com revoltados, bandidos, atletas, paralíticos, atingi o gozo com negros tiranos, brancos vassalos, nipônicos atordoados, árabes ocidentais.
Sonhei com bonecas polvilhadas em talco perfumado, chorei no ombro de sacerdotisas ornadas de andrajos, me aconcheguei no colo hospitaleiro de rústicas roceiras, gargalhei com feministas, sorri baixinho com femininas donas-de-casa.
Por estes dias e noites tenho deitado, entre outros, com Dostoiévski e seu O jogador, com Camões e sua Lírica, com Juliano Garcia Pessanha e sua Certeza do agora, com Anatol Rosenfeld e suas Letras e leituras e com Nietzsche e Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral.
Certo, nenhuma mulher, mas por nenhuma razão especial.
E você, que homens e mulheres tem levado para a cama?
Eu tenho levado milhares, milhões.
E nunca são bastantes.

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