Esta inscrição a escorrer pela parede viva com que me rodeia a Grande Dor deve ser lida e imaginada ao simultâneo som de Hear my train a comin' com Jimi Hendrix e In fernem Land com Jonas Kaufmann e/ou Franz Völker.
Escolham à vontade.
No palco, duma estátua que nada tem de fantasmagórica, desumana, assustada, sobranceira (mas igualmente humilhada) de Wagner brotam por uma cavidade na parte inferior do rosto pétreo as vozes de mil demônios surpreendentemente angelicais e familiares que simulam os acordes metálicos cândidos duma guitarra elétrica em xifópaga harmonia com os cânticos antissentimentalóides de Lohengrin.
E assim começa o show:
Bem, na terra distante que é minha, só minha e de mais ninguém
Escuto, vindo do interior do castelo que conheço por não ter um nome
O óleo que não minou dos meus olhos qual regato de lágrimas incandescentes
A ferver dentro da mais bela frigideira da Terra
E os mil angelicais demônios fazem um germânico
Schhhhh
Schhhhh
Schhhhh
Enquanto escuto meu óleo a ferver dentro da mais bela frigideira da Terra
Schhhhh
Schhhhh
Schhhhh
Sob a batida ritmada do coração que pulsa no peito da estátua de Wagner
Tum tum tum
Schhhhh
Tum tum tum
Schhhhh
Tum tum tum
Schhhhh
Bem, escuto as mil vozes de anjos demoníacos fazendo coro
Ao fundo
Enquanto meu óleo ferve dentro da mais bela frigideira da Terra
E num momento que ninguém sabe quando estarei frito.
E a cada infalível segundo
Um corvo desce feito um raio lá do céu
Para me bicar o fígado fatiado em postas
Na tábua de carne deixada por minha mãe
Sobre a pia da cozinha.
Bem, escuto o coro que é meu, só meu e de mais ninguém
A entoar
Nunca mais!
Nunca mais!
Nunca mais!
E a sombra da morte teima em tremular titubeante
Na parede que erigi ao meu redor.
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