Blogando 0005

Em Blogando 0004 saí para um breve passeio com minha fiel escudeira Zezeí e acabei testemunhando um evento com 100 por cento de conteúdo humano. Well, a rua, e o mundo inteiro lá fora, está ao alcance de todos e suas sensibilidades. Imagino que para um nativo digital (expressão que em breve não terá mais sentido, assim como inúmeras características, propriedades e situações que nós não nativos pudemos experenciar) a hipótese de sair à rua e apreciar o mundo em volta e se esforçar para inferir algum sentido seja ou piada ou missão impossível. O pobre rico nativo digital nasce clicando desvairado sôfrego pelo porvir, embora ignorante do significado dessa palavra. E igualmente ignora que os poetas, mesmo o insopitável Homero, sempre buscaram e buscam até hoje o porvir. Mas — abramos duma vez este joguinho idiota — ninguém é mais antípoda dum poeta que o nativo digital. Não que um nativo digital não possa ser poeta. Poetas não têm data de validade. Se defacto poetas, podem durar a eternidade toda — qual Homero. O mais insuspeito dos nativos digitais também pode se revelar um. É altamente provável que já estejam nos googles por aí onde farejá-los será mais impossível que o famigerado poema no palheiro. Gosh, precisaremos de infinitos edmund-wilsons para identificá-los, validá-los para a academia, traduzi-los para o leigo preguiçoso se interminavelmente viciando no imediatismo da imagem. Será Homero reconhecível daqui uns 15 anos? By whom? Who cares? Sorry, helenistas, Homer is dead. Quem sabe Vaccari tenha uma chance? Afinau sou meio nativo digitau. Será ao menos minha vingança. Ao intransponível alcaguete da sereia, definitivo divisor do bem e do mal, do amor e da luxúria, do sonho e da realidade, cuspe! o olvido digital será minha vingança e os porões da humanidade te guardarão com a devida sombra e o merecido mofo. Hoje descobri que ainda posso voltar às ruas e olhar o mundo como se fosse meu e de mais ninguém. Reencontrei, ó jesus amado, o caminho da minha poesia. Não era este (Ferreira Gullar (não foncundir, digo, confundir com Jango Goulart, com o t proferido no Rio Grande)) que você esperava? Só posso contristado lamentar. Thank god poesia não requer fórmula. Deus não é e não foi o poeta dos meus sonhos. Sorry again, todo poema é a negação desse deus com que você pretende vedar todo e qualquer vazamento do mundo. O poeta — incluindo Eliot — é um incandescente insurgente. Se você não sabia, vá ver novela. Ler Jabor. Se persignar. Suplicar a benção. Esperar a volta de ó, jesus.

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