Bquiu Xpefmi Czoio vai navegando pela Rede
Geométrica Infinita sem rumo certo. Rola páginas e páginas e mais páginas para
baixo, desliza páginas e páginas e mais páginas para cima, sem se animar a ler
mais de duas linhas. Nem mesmo algumas fotos da periguete-sensação do momento,
Ndeupe Qraai Qsual, se exibindo peladinha em todo seu frescor e volúpia, com
todos os 15 seios à mostra, são capazes de reter a atenção do garoto.
Bquiu Xpefmi Czoio está enfarado.
Ainda sem grande entusiasmo, solta um profundo
suspiro de cansaço. Isso é suficiente para desligar a Hiperinternet vHiJdU
50.000 ponto 5. Bocejando, conecta o Ultraastronommer aMqeBe AgsU jbiMhe sFe
que ganhou de presente de sua mãe Jcura Pojva Ale em seu octagésimo-quinto
aniversário. Bquiu sequer sabe direito o que o Ultraastronommer aMqeBe
AgsU jbiMhe sFe faz. Se for igual ao Ultraastronommer Oa Ge Xo Oilhuhvorde Ti
Bhui que ganhou ano passado, não vai nem querer saber. O último modelo do
Ultraastronommer só conseguia ler as 140 primeiras palavras dos pensamentos dos
outros. Ou seja, era uma grande porcaria.
Enquanto abria a embalagem, com a festa do aniversário já caminhando
para o fim, parecia ter ouvido mamãe Jcura mencionar algo sobre viagens pelas
estrelas. Na hora, estava entediado demais para atentar às ladainhas
ultrapassadas da velha.
Ai que tédio...
Surge uma nuvem na tela em 8D. Nada
espetacular. Nem mesmo interessante.
Com outro bocejo, Bquiu desliza o controle da
resolução, incrementando o número de pixels para 8 bilhões por nanomilímetro.
Certo, trata-se duma resolução para ninguém botar defeito, mas que emprega
PseudoTecNologIa CabAlístico-AbracadabRante de antes de ontem. Totalmente
ultrapassada. Ai que bode...
Hmmm, parece que é uma nuvem de estrelas... pondera Bquiu,
fazendo coruscar a um-terço de cintilação endômica uma das pupilas do olho
extremo-esquerdo.
Ah sim, ali está Urgoqe, apenas 5 trilhões de
anos-luz distante da Grande Nave-Mãe qGim vEfBeAa aiMm Xia fmeL. Nada doutro
mundo. Bquiu passou as férias escolares do ano passado naquele lugarzinho
chatérrimo com seus camaradas hologramáforos aE mbuiciiO xfI e pI ssiE cO.
Assim que os três voltaram da viagem, Bquiu cortou os feixes de luz de aE
mbuiciiO xfI e pI ssiE cO. Os dois eram muito xaropes. E comiam laser além da
conta.
O enfastiado navegante aciona outro controle,
desta vez incrementando a intensidade das 5 quatrilhões de centelhas submersas
de luz branca imbalançada através dum ângulo higgs-bosoniano irrestrito. Na
tela do Ultraastronommer a mancha que parece salpicada de farinha dá lugar a
imagens bem definidas de estrelas. Bquiu aponta o olho intermediário para um
determinado subquadrante -100000-300000 e por sobre uma das galáxias
exibidas no visor em oFxEe VMSbua de 7 dimensões interretroprotoespelhares
pisca uma legenda:
VIA LÁCTEA.
Alguma coisa acontece na zona ainda
humanossensibilizada do hipotálamo desassexuado ultravioleta do cérebro
inferior do rapazola. Onde tinha visto esse nome antes? Sentindo uma ligeira
perturbação, algo assim como um incômodo indistinto e inédito, ele ativa o
afbEm bsUNle. Ah, aqui está: conforme aprendeu no 85º ano da 15ª série, era
nessa tal de Via Láctea que ficava aquele grãozinho de poeira onde os
ancestrais da raça homorucdrbulvehxaipepm tinham-se originado na Era
Pré-Debandada-Geral-Para-Além-E-Mais-Um-Pouco. Como se chamava mesmo o
planetinha? Cquqrrl? Jusesi? Ugqu? Espevitando o último apêndice do dedo
indicador da mão bifurcada extremo-direita, Bquiu lambe a anteninha do afbEm
bsUNle. Um diminuto planeta acizentado se mostra todo na tela.
Na legenda, o nome: TERRA.
Abaixo, uma breve descrição: Corpo celeste
da Categoria QueCi aIPul Sub-Alfa (a mais ordinária de todas) cuja vida foi
extinta quando sua estrela central, denominada Sol, se apagou repentina e
imprevisivelmente há exatamente 36 milhões fa, 707 mil ti, 23 anos iflal, 145
dias qpaja, 13 horas ba, 29 minutos diohi viqxo piemxi 3 segundos, 4 segundos,
5 segundos, 6 segundos...
Mais abaixo ainda, o aparelhinho lança uma
pergunta: DESEJA ATIVAR RETROCESSO TEMPORAL?
Por que não? Bquiu dá de ombros. Já que estou
aqui...
Ele faz que sim com uma das cabeças. A máquina
emite um gemidinho (será que já está com defeito? o menino se irrita ante a
possibilidade; essas tranqueiras vivem pifando!). A tela se expande até o
tamanho natural. O tempo retrocede 36 milhões e 700 mil e poucos anos.
A vida no tal planetinha Terra começa a
desfilar diante dos olhares indiferentes do garoto. Nada digno de nota. É um
lugarzinho ridículo, repleto de bodegas, botequins e espeluncas, todo
atravancado de badulaques, trastes e cacarecos. Tudo muito cinza, muito sujo,
muito feio, recoberto por uma infindável camada de água fedida e asquerosa.
Aqui e ali pode-se avistar uns serezinhos esquisitos, tendo no alto o que parece
ser uma abóbora brilhante no meio da qual uma forma primitiva de olhos piscam
como se quisessem dormir. Abaixo da abóbora há dois apêndices articulados que
pendem de cada um dos lados do corpo, o qual, nas esparsas áreas secas
espalhadas pela vastidão de água imunda, é movido para lá e para cá por outros
dois apêndices igualmente articulados. Cada qual destes últimos é sustentado
por uma espécie de pata também primitiva e grotesca.
Ugh! Que ea tcie fz oa ge xo oilhuhvorde ti
bhui qpaoie! enoja-se Bquiu. Não é à toa que de qs vr o ifel diidu ixudi io
njagxu hm sjie ro cvojmu pcupl pge rdo vm opjatz jniviz...!
O sorumbático adolescente abre um novo bocejo,
já decidido a desligar a geringonça e retornar à Hiperinternet vHiJdU
50.000 ponto 5, quando um ruído estranho vindo dos superhiperultra-altofalantes
do Ultraastronommer chama sua atenção.
Surpreso, ele sente o ânimo se elevar
instantaneamente.
Afbem bsunle queci aipul fa ti iflal qpaja...? comenta em voz baixa.
Abana uma das orelhas e a máquina dá Stop,
interrompendo o retrocesso temporal.
O som exótico emitido dos
superhiperultra-altofalantes se intensifica. De repente, o profundo enfado de
Bquiu desaparece. Imagens vagas, coloridas e disformes passam por seus
cérebros, originando assombrosos pensamentos, pensamentos que nunca teve antes.
Ba diohi viqxo piemxi ea tcie fz!* exclama, tomado de
enlevo.
*Tradução: Estou com vontade de sonhar!
Focando todos seus olhos na tela, fica ansioso
por informações sobre aquele som hipnotizante. E vê uma cena a princípio
incompreensível: vários daqueles seres esquisitos com abóboras no alto e
apêndices embaixo estão sentados formando um semicírculo ao redor dum outro
sujeito esquisito, que está em pé. Todos têm uma cabeleira clara sobre sua
respectiva abóbora. Os sentados seguram um instrumento entre um dos apêndices
superiores e o que parece ser um queixo. O instrumento é dotado de cinco fios
retesados. Com o outro apêndice, os esquisitos sentados fazem deslizar uma
vareta pelos fios esticados.
Então Bquiu se dá conta de que o som estranho
é produzido por cada uma das passadas das varetas em cada fio.
Agora já completamente excitado, Bquiu não se
contém e se põe a clamar:
Qpaoie de qs vr o ifel diidu! Qpaoie de qs vr
o ifel diidu! Qpaoie de qs vr o ifel diidu!
Ato contínuo, surge ao seu lado ninguém mais,
ninguém menos que o formidável, o incrível, o maravilhoso, o monumental, o
portentoso, o sensacional Crur Mdoze Lha.
Que foi desta vez, Bquiu Xpefmi Czoio? Já não
lhe disse para não me interromper quando estou tomando banho com minhas cento e
vinte esposas?
Me desculpe, adorável, fantástico,
estupefaciente, extraordinário, assombroso Crur Mdoze Lha, meu pai. É que
pensei que você gostaria desse sonzinho aqui...
Dizendo assim, o garoto incrementa o volume do
equipamento e os acordes do primeiro movimento do Sexto Concerto de
Brandenburgo começam a flutuar pelo ambiente, transportando Crur Mdoze Lha a um
doce estado extasiante e deixando seu filho muito ligadão.
Mas que apito mais bonito, esse! exclama o formidável
Crur, apurando os ouvidos.
Mucho loco, né paizão! concorda Bquiu. E
manja só essas guitarrinhas maneras...!
Muito louco mesmo, Bquiuzinho! Onde você
descolou essa maravilha?
Eu tava mexendo com a Máquina de Retrocesso
Temporal coisa e tal, daí cheguei naquele lugar chamado Terra, saca? Então,
quando caiu no ano 1721 a parada começou a tocar.
Quem será que fez esse sonzinho divino?
Ora, meu formidável paizão Crur! Lembra na
escola quando a gente aprende que milhões de anos atrás os caras acreditavam
num ser que chamavam deus? Pois é...
Nenhum comentário:
Postar um comentário