Blogando 0045


Sabia.
Não deu outra.
Um “poeta” tinha de “tratar” da distopia ocorrida último domingo na trágica Santa Maria no estado do Rio Grande do Sul.
E tal poeta só podia ser um gaúcho, obviamente. Afinal, é a área dele. Ele tem ascendência natural sobre as tragédias de sua terra.
Previsivelmente, o canto de dor pelo funesto episódio da danceteria Kiss (Jesus, terá o “poeta” recorrido ao previsível trocadilho?) coube a Fabrício Carpinejar. O poeta na hora certa no lugar certo.
Sem saída (jesus!), começo a ler o canto de morte. Meus olhos correm por dois ou três versos e imediatamente buscam ar (jesus!) no branco da parede à minha frente.
Carpinejar teve coragem! (Se há um ponto de exclamação legítimo no mundo, é este.)
Incluiu em sua elegia fúnebre todas as imagens grotescas que se poderia esperar dum poeta como ele. Só espero que Veríssimo não o siga.
Carpinejar veio açodado tomar parte do imenso açougue humano transformado pela mídia e pelos poderosos no Maior Espetáculo do Fim de Semana. Com seu panegírico fora de lugar, juntou-se às lágrimas de crocodilo de Dilma Rousseff, aos esgares canastreiros do governador Tarso Genro, ao picadeiro rocambolesco armado pelo ministro da Saúde.
Soube dessa imensa infelicidade quando cheguei na casa da minha irmã domingo pouco antes do almoço. Entrei na sala, a tevê estava ligada, dei com a notícia, escutei minha própria voz exclamar “puta que pariu!”.  Senti os olhos molhados. Eis a total reação espontânea que algo assim merece. Eis a única poesia que se pode prestar às vítimas da infâmia, da incúria dos nossos homens “públicos”.
Hoje abro o site da revista Veja para descobrir que o gran necrófilo Luiz Datena, que revolve a carniça humana todas as tardes na tevê com seu enorme bico de abutre de Prometeu, foi legitimado - e, pior, emulado – como poeta pelo poeta Fabrício Carpinejar.
Sobre este episódio sem adjetivos tudo que a canalha política e os poetas maiores podem fazer é o silêncio.

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