Durante um instante

Não gosto da palavra bizarro. Fico meio enojado de quem usa a palavra bizarro.

Em francês e em inglês, bizarro significa simplesmente "estranho".

Em português, "bizarro".

Todo dia vejo por aí um monte de gente usando a palavra bizarro com a maior facilidade.

De pronto me digo: poucas coisas merecem ser chamadas de bizarras.

(Cá pra nós: NADA merece ser chamado de bizarro.)

Pois nada no meu mundo é bizarro.

E se Aristótoles estava certo e se sou humano e se nada no meu mundo é bizarro, podemos concluir que nada para os humanos é bizarro.

Mas admitamos que haja alguma coisa bizarra ou algumas coisas bizarras neste nosso mundo.

Se houver, são raras, certo?

Na verdade, rariíííííssimas.

O que me enoja quando vejo essa palavra abusada a torto e direito é perceber instantaneamente que quem a usa tá é a fim de chocar.

Muita gente por aí se acha capaz de chocar.

Muita gente por aí não quer outra coisa senão chocar.

Então chegam logo botando um "bizarro" num texto e se dão por satisfeitas.

Então fico chocado.

Com tamanha ingenuidade.

Nesta era de abundância infernal de palavras...

Nesta era de abundância infernal de palavras ocas...

Elas, palavras ocas, são... ocas.

Imagine uma palavra oca.

Imaginou?

99,99 por cento, ocas.

Há por aí quem nunca se tenha dado conta dessa terrível realidade.

O que, para mim, é simplesmente bizarro.

Corrigindo Sartre, o inferno são as palavras.

Jesus, é muito palavrório.

Muito palavreado.

Falatório demais.

A era da informação total e absoluta logrou seu intento: acabar com a palavra, dizimar o significado.

Nos meteram numa câmara de tortura recheada de letrinhas.

Letrinhas de todas as cores, letrinhas de todos os tamanhos, letrinhas de todas as fontes.

Todas elas, cada uma delas insossa.

Insípida.

Inodora.

Bizarramente antibizarra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário