Eu podia ser da Vinci

De braços erguidos.
Me entrego.
Faz de mim o que nunca quis que fizessem de mim.
Me maltrata. Me machuca. Me fura.
Esquece teus escrúpulos.
Teus escrúpulos são bobos. 
Podem sair pela culatra.
Poetas não estão entre as categorias mais confiáveis, segundo as pesquisas de opinião.
Fosse bombeiro ou marceneiro, até mesmo bancário...
LADRÃO!
E se fosse ladrão?
Assaltante com cara de bafo-de-onça, daqueles que não deixam dúvida de que estão dispostos a tudo...
E tacam na lata: A vida ou a bolsa!
Como poeta, sou pior.
Posso roubar tua alma.
Pior!
Posso me apoderar da tua paz de espírito!
Não diz que não a tem! Não acreditaria.
Não sob as bençãos dos deuses egípcios...
Não sob a perspectiva dum meio sorriso...
...ou essa parcimônia emotiva carregada do comedimento duma foto preto e branco em que a guardiã nutre o pudor de exibir a exuberância da própria beleza...
Estou de braços erguidos. Me entrego. Faz de mim o que sempre sonhaste em fazer do piadista que sou.
Tão ingenuamente tentado a te amedrontar com meus pífios poderes de sub-herói.
Quando a vítima aqui sou eu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário