Sim, tive alguns momentos de predestinado. Não, nunca achei que um dia me tornaria presidente ou capitão dos bombeiros ou comandante de boeing.
Meus momentos de predestinado quem mos deu foi a música. Depois da adolescência, a poesia e depois a música. E, depois da adolescência, a mulher que me ama até hoje e que amo até hoje.
Embora escassos, meus momentos de predestinado são inúmeros e estou cansado demais para enumerá-los e portanto vou falar só de um, o mais importante.
Meu mais importante momento de predestinado foi quando escutei In my life, de John Lennon, a primeira vez.
Odeio detalhes e vou pulá-los. Nunca me dei bem com Balzac.
Digo apenas que estava voltando.
Estava voltando da praia.
E era noitinha, noitinha como só existe numa praia brasileira.
E o ano era, sim, 1965.
Você que já teve momentos de predestinado — e todos já tiveram, porco dio — sabe que um bom momento de predestinado, um momento decente de predestinado dá ao freguês uma boa noção de que a vida é a areia do tempo a nos escorrer pelos dedos.
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