Segunda chance

Postei este poema em 4 de fevereiro de 2011 e era uma sexta-feira e é um inaceitável absurdo que na nova ordem bloguiana facebookista em que só o que não tenha mais 10 segundos de vida deve sobreviver determine tão imperiosamente os destinos da literatura deste novo, deste digital mundo imundo. Aí vai, aí vem de novo e esta noite brindarei pela enésima vez minha ilimitável liberdade de ser o que sou.


Instantâneo

Sabe, mãe? Então tudo para
E em tudo está incluído o mundo
Sabe, pai?
(Vem pertinho, quero cochichar no teu ouvido)
Vamos rir um pouco
Nesta tarde de sábado
Tudo parado
Mas não tem problema
Com uns giros em minha
Metafísica manivela
Os encantos haverão de se restabelecer

Tudo foi um erro desde o começo
Vocês sabem mas não custa repetir
Um tão cômico erro
A deflagar tantas risadas ao meu redor ao longo de todos esses anos
Escuta as gargalhadas paradas no ar
Levadas ao léu por ventanias que não sopram
Abafadas por tempestades que não desabam
Murmuradas por cadáveres que não apodrecem

Ontem à noite tudo parou tanto
Que tive tempo de me olhar no espelho atrás da porta
Depois de todos esses anos
Venci o medo, me olhei nos olhos

Ah, pobreza de espelho
Se limitou a entoar uma sinfonia
Me convidando a desvirginá-lo
Ri um riso mudo
Sem ousar romper o silêncio

Quer dizer que tudo então está parado?
Sim, tudo está parado
No mais insustentável dos equilíbrios