Apenas um antipoético poeta

Pronto. Outra vez ela vai e me deixa aqui falando sozinho. Não que me importe -- gosto de falar comigo mesmo, sou meu mais atento interlocutor, e único.

Sei que a gente por aí vive tagarelando sozinha mas não presta muita atenção no que diz pra si mesma (ou porque tá com a tevê ligada, como a Soninha, ou porque aprendeu a não escutar ou a fingir que escuta, ou porque quando ouve a própria voz acha que é um fantasma interior, qual escritores novatos). Eu sou ao contrário -- não presto atenção no que os outros falam porque tenho essa hipersensibilidade a vozes e à maioria dos estímulos externos, sobretudo os vindos dos "outros". Não, não sou marrento. Mas me dá tédio instantâneo. E não tenho nem nunca tive o mais ínfimo interesse no que outros tenham a me contar. Sou avesso às minhas próprias experiências, que dirá às alheias.

Como qualquer outro escritor, vou observando e registrando. Por isso manter blog é gostoso -- você se despoja das pretensões literárias e, se o despojamento for sincero -- sendo o mais difícil --, a "coisa" acaba virando literatura. Essa é uma das diferenças. Existem escritores de tudo que é jeito e de tudo que é nível, cada qual cuma hipótese teórica do que é escrever. Umas e outras ora aceito ora descarto. As minhas próprias são temporárias, como de resto a maior parte do que penso. A gente por aí gosta de pensar que pensar é um verbo ativo. Mas não é -- é passivo. Você não é o sujeito do pensamento -- é o predicado, a vítima. O pensamento vem, passa pelo teu cérebro (passagem cuja duração também é alheia à tua vontade) e vai. Ou não, se for do tipo caprichoso. Ou pode vir emparelhado com outro ou abandeado com muitos outros, sem hierarquia, sem disciplina, sem nacionalidade, sem religião e sem escolaridade.
Escrever, portanto -- estou tão axiomático hoje em dia --, tem a ver mais com a tua capacidade de capturar teus pensamentos descontrolados e traduzi-los em palavras sem causar-lhes danos letais do que organizá-los e lustrá-los e enfeitá-los cum lacinho mesmo que seja multicor.

E escrever certamente tem pouco a ver com elucubrações sobre escrever.

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