Esta notícia saiu hoje na, onde
mais? Folha de SP.
Que nos meus tempos de moço
bem-intencionado se autodenominava e era tida por muitos por jornal para hoje
se tornar um imenso pastiche de bobagens às vezes entremeadas de notícias
anódinas e irrelevantes.
Pobres pósteros da espécie. Não
queria estar em sua pele deles. (Já estou, PQP.)
A foto mostra um, imagino, chiuaua
(ou será um rotweiler caído dum anel de Saturno?). Parece que no instantâneo o
bichinho tentava se esgueirar num angustiante e cataclísmico estado
intermediário entre o terror puro mas nada mero e uma nefasta abulia estóica.
Deve ser assim que se sentem os torturados das masmorras das nossas delegacias.
A entusiástica dona a segurar a
geringoncinha está participando dum concurso de fantasias caninas promovido
pela, pasme-se! Sociedade Protetora dos Animais das Filipinas.
Sociedade Protetora dos Animais das
Filipinas pontão de exclamação. Ainda bem que não sou (?) animal nem nasci por aquelas bandas.
No lugar desse coisinho canino ia preferir uma estadia no Instituto Royal. Quem
sabe dava a sorte de ser salvo em pessoa (ou em cão) pela Luísa Mel e à noite ela
me botava pra dormir na cama junto com ela? Até prometia conter minha linguona
atrevida.
Pauvres dogs. A raça humana vai passando
por um bruta dum processo de transformação cultural sob os acachapantes efeitos
da interconectividade a subverter a forma como nos relacionamos uns com os
outros, a nos abrir acesso total deste universo sinistro de estímulos
sensoriais que está nos empobrecendo intelectualmente, a nos empurrar
ardilosamente para um teatro macabro de narcisistas mórbidos que não se dão
conta de que vão se convertendo em patetas a marchar para a morte do espírito. Sem
falar dos sei lá quantos outros efeitos que só os nossos descendentes poderão
lamentar devidamente e amaldiçoar a bela herança que estamos lhes
deixando.
Quero aproveitar este
"espaço" e dizer ao meu tataraneto que bem que tentei, cara. Só que ninguém
me deu ouvidos. É que hoje em dia escutar os outros meio que saiu de moda,
sacumé? Ando achando que até os outros saíram de moda. Agora só existe o
"eu". Um euzão descomunal, do tamanho da internet, impossível de
medir e aquilatar, um euzão constituído de 7 bilhões de infinitesimais euzinhos
estilhaçados, cada qual se tapeando que é um eu normal e inteiro, poor little
guys. (Quer dizer, espero que meu tataraneto saiba ao menos ler. The way things
are going.)
Nossa tão frágil psique vai
deslizando solerte rumo a um desconhecido tenebroso, cercado de mistérios e
prováveis más surpresas, ao invés de evoluir para um estado simples de
bem-estar físico e mental e não um mundo atravancado até o teto de todos os
confortos tecnológicos (in)imagináveis. A tecnologia vai dando mostras seguras de
não ter limites. Cada dia mais tudo é frívolo e supérfluo e no processo nos força
a um abandono extremado e trágico de nossas raízes. Os gregos acreditavam que
seus destinos eram ditados pelos deuses e sua tragédia nascia da impossibilidade
de escapar deles e por isso os personagens de Eurípedes, Sófocles e Ésquilo
cometem atrocidades que são atrocidades apenas aos olhos dos homens, não de seus
deuses. Seria exagero fazer uma símile comparando que nossas estripulias neste
espantoso mundo novo da técnica podem nos levar a situações insuportáveis?
Chegará a hora em que daremos mais
importância a um cachorro que a um homem, uma mulher, uma criança?
If
your dad is rich take her out for a meal, if your dad is poor you just do what
you feel.
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