Saí pelas ruas à tarde, deparei cum
anjo, peguei o anjo pelo braço, encostei o anjo contra um muro e interpelei Escuta, você é homem ou mulher, afinal?
Diga. Preciso saber.
Não me pergunte quantos escritores
me passaram pela cabeça assim que fiz a pergunta.
Duvido que o próprio Barthes
decifrasse esta.
Não
tenho sexo, ele/ela respondeu.
Não queira saber quantas
possibilidades de réplicas me passaram pela cabeça. Estamos na era em que José
Simão é um dos mais lidos na Folha de São Paulo, era em que alguém que atende
pelo nome de Fábio Porchat é a nova coqueluche nesta terra de neandertais.
Coqueluche?
É a voz de meu pai. De repente me
toco que me excedi. Lá vou eu de castigo de novo. Tomara que não me presenteie
cum cascudo no meio da orelha.
Sei que mereço, though. Coqueluche
em plena era internética? Perdi meus sais literários. Depois desta vou acabar
desenvolvendo uma tese acadêmica sobre National Kiddo, se é que ninguém já fez.
Volto ao presente, meu punho está
comprimindo a garganta do anjo.
Cadê
suas asas?
Não
tenho. Em compensação não faço cocô. E nasci na década de sessenta.
Sinto o coração desacelerar um tico.
Provavelmente não vou morrer nos próximos dez minutos. Nenhum grande alívio,
pesando tudo. (Por que não escrevemos tudo em inglês duma vez?)
Porque
vocês não são anjos, ora! – mata ele, mesmo sem ser perguntado
diretamente.
Fito seus olhos cuma intensidade de
que não me julgava capaz. (Por que não nos entregamos às telenovelas todos duma
vez por todas?)
Já
conhece a Igreja Universal do Reino de Deus? – quem me pega pela garganta
agora é ela/e.
Ato contínuo, me arrasta para atrás
do muro e me estupra. Puta merda, esses anjos são o diabo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário