Saudade do dom-dom que não tive
Os caras
resolveram ir na casa do espanhol brincar de autorama e eu e o Reinaldo
resolvemos zanzar um pouco pelo centro, talvez achássemos algo mais
interessante pra fazer. Passamos em frente à casa da Leonor, que estava no
portão olhando pra cima e pra baixo esperando que um conhecido desse as caras.
Sonhei com você, exclamou quando me viu. Fiz que não era comigo e continuei em
frente e o Reinaldo disse que uma mulher que dissesse aquilo pra ele agarrava na
hora. Vamos na rua atrás do colégio, decidi e o Reinaldo me seguiu. Encontramos
o Paraná arregaçado num banco, curvado pra frente, cabeça abaixada entre as pernas. E
aí? perguntamos. Experimenta essa, ele abriu a palma da mão e
mostrou um frasquinho com comprimidos. O Reinaldo esticou o braço para pegar,
fiz que não. Olhei pro cara que estava mais próximo e perguntei, qualé? e ele
disse, hoje à noite vai rolar lá no salão da CASCS, fiz que sim, vamo nessa,
falei pro Reinaldo. Rumamos pra galeria, entramos na loja de disco, tava
tocando Credence, fica aí que já venho, disse pro Reinaldo e me mandei, subindo
a MC, entrei no Capri, o Roberto taí? O garçom fez que não, perguntei se me
dava uma vodka, ele não respondeu, foi no outro balcão e voltou cum copo cheio
que engoli dum só gole e saí na calçada e me encostei na parede e fiquei
olhando o trânsito. O Heitor, irmão do Roberto, chegou, apertou minha mão,
perguntou se queria tomar um negócio, quero, disse, fomos pro balcão e o garçom
serviu duas vodkas pra nós dois, que engoli dum só gole e o Heitor, vendo minha
sede, mandou repetir a dose algumas vezes e o Roberto chegou e repetimos o congraçamento
e eu disse, tô ficando bêbado, acho melhor ir pra casa e fui e deitei e dormi e
quando acordei estava com cinquenta e lá vai cacetada.
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