Chega de nostalgia

Tenho essa coisa com a vida difícil de definir. Tem hora, me enche desde a cabeça até a boca e olho soberbo pro mundo, nada pode me atingir, tem hora, o mundo olha pra mim questionando que raios estou fazendo aqui e a língua morre dentro da minha boca. O avanço e o refluxo do mar tarde da noite na praia, podiam me traduzir se eu tivesse alguma afinidade com a natureza. Você sabe onde vou terminar, claro. Não será por falta de aviso. A quem? O leiteiro da década de cinquenta que entregava nossos litros de leite em frascos de vidro insciente de que Doris Day e Rock Hudson explicaram a metade posterior do século, alheios aos xodós da crítica institucionalizada. Saio e vou até a esquina e essa coisa que tenho com a vida vem me acolher e me assombrar. Um dia lhe dei o nome de "individualidade", pensando que as palavras podem tudo. Papai me disse que viver requer alguma dose de sacrifício, remedando a novela da Tupi. Tentei olhar fundo nos olhos dele, vi que não podia, ele viu que não podia e deixamos pra outra ocasião que nunca chegou e tudo se abriu num horizonte de inconcebível largura e desistimos cada qual à nossa maneira e decidimos fingir que daí em diante sabemos a verdade das coisas, a verdade do mundo, qualquer verdade que a realidade sensível queira nos impingir.


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