Há saciedade maior que abrir um
livro a esmo e ricochetear os olhos pelas linhas em velocidade tal, que nenhuma
palavra seja apreendida em dolorosa mimese da nossa experiência do berço a
hoje?
É claro que quem dedica a existência
ao facebook e à tevê não tem a mais diminuta noção do que estou falando. And
yet sou forçado a me dirigir a tais humanos ultraleves pois são eles o possível
público dos blogs desta era. Não é que a literatura esteja nos estertores. It's
just que tudo que era relevante ontem vai se diluindo nesse intolerável
estilhaçamento do pensamento humano ao infinitesimal.
Os admiráveis digitais seres que
chegam jamais saberão o que é empolgar um livro nas duas mãos, abrir, folhear,
pressionar o polegar na borda fazendo com que as folhas disparem para o lado
contrário, tripudiando do olhar que tenta fisgar um ou outro fragmento até se
dar por vencido e sorrir em capitulação de que terá de se demorar mais do que
sonhava a avidez de seu dono.
Haverá algo de atávico em entreter
nas mãos um livro tal como homens que existiram há mil anos?
Que conexão tenho com aqueles
homens?
Qual tenho com estes homens que se
dedicam a desaprender a alma da palavra?
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