Twenty-First of the Year, at last

Sabia! — brande as duas mãos diante do doce rosto dela.
Que volta o rosto doce para ele quase assustada.
Ele continua ali parado, braços erguidos, saboreando intimamente o que parece ser uma emoção profunda.
— Me permita uma risadinha, hihihi.
Sabia o quê? — ela decide falar:
— Que seria você.
Aguarda apreciando a reação dela. Dando-se por satisfeito, prossegue:
— Como são imprevisíveis os caminhos para os que não sabem olhar a luz a se morrer no horizonte.
Pausa.
— Me leva?
Te levar? Aonde? — ela está confusa.
— Na missa.
Não sabe se responde cum riso ou uma careta.
— Vamos fazer uma coisa?
Sem resposta.
— Brincar de confessionário?
— Sou o padre, você, a confidente.
— De cara te recomendo mil ave-marias. Deves ter pecado a pagar até o ano 2300.
Fita o rosto da mocinha tentando ler sua alma.
Me chama de homem não, me sinto estranho, sou apenas macho.
Tão evidente que tô exibindo meu talento? Então exagerei. Que cafona. Seja sincera, cê acha que tá na cara? Aprendi faz tampo, tempo que todos devemos ser sutis, escritores que se acham donos das palavras. Tô emitindo muita bobagem. Você me desconcerta. Que raio de desconcerta é esse? Sou Machado? Sei que é sincera. Vi logo de cara. Admiro a sinceridade. Respeito. De minha parte também procuro ser. O problema é que sou mais do que seria prudente. Já sentiu? Morro de inveja dos que sabem desenvolver uma fachada. Parece tão mais simples. Você não tem seu espaço íntimo invadido. Vou escrever um poema todo santo dia quando o dia não for santo.

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