Sabia! — brande as duas mãos diante
do doce rosto dela.
Que volta o rosto doce para ele
quase assustada.
Ele continua ali parado, braços
erguidos, saboreando intimamente o que parece ser uma emoção profunda.
— Me permita uma risadinha, hihihi.
Sabia o quê? — ela decide falar:
— Que seria você.
Aguarda apreciando a reação dela.
Dando-se por satisfeito, prossegue:
— Como são imprevisíveis os caminhos
para os que não sabem olhar a luz a se morrer no horizonte.
Pausa.
— Me leva?
Te levar? Aonde? — ela está confusa.
— Na missa.
Não sabe se responde cum riso ou uma
careta.
— Vamos fazer uma coisa?
Sem resposta.
— Brincar de confessionário?
— Sou o padre, você, a confidente.
— De cara te recomendo mil
ave-marias. Deves ter pecado a pagar até o ano 2300.
Fita o rosto da mocinha tentando ler
sua alma.
Me chama de homem não, me sinto
estranho, sou apenas macho.
Tão evidente que tô exibindo meu
talento? Então exagerei. Que cafona. Seja sincera, cê acha que tá na cara?
Aprendi faz tampo, tempo que todos devemos ser sutis, escritores que se acham
donos das palavras. Tô emitindo muita bobagem. Você me desconcerta. Que raio de
desconcerta é esse? Sou Machado? Sei que é sincera. Vi logo de cara. Admiro a
sinceridade. Respeito. De minha parte também procuro ser. O problema é que sou
mais do que seria prudente. Já sentiu? Morro de inveja dos que sabem
desenvolver uma fachada. Parece tão mais simples. Você não tem seu espaço
íntimo invadido. Vou escrever um poema todo santo dia quando o dia não for
santo.
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