Escrever avec
plaisir como um homem
O cobrador tem,
bem sei, uma pose meio moralista que destoa da pretensa liberdade da rapaziada
que não quer outra coisa senão curtir, esse estranho verbo destes estranhos
tempos modernos. (Você de certo vai estranhar que eu chame estes tempos de
estranhos. Pois te digo que estes tempos — e tudo que há dentro deles —são horrorosamente estranhos. E intoleráveis. Um dos problemas de viver é que não
te dão nenhuma opção individual sobre coisa nenhuma. Você tem de nascer no
lugar, na época e no dia escolhido pelo arbítrio de sei-lá-quem. Se isso não é
insuportável, então não sei o que é insuportável.) O moralismo do cobrador
causa desconforto. Enche o nosso frágil saco que de uns tempos para cá já nasce
cheio e desintegra quando submetido a estresse além da conta.
E me pergunto
se você entenderia o simbólico sem que eu te explique.
E me pergunto.
E me pergunto.
Um dia tive o
mundo em minhas mãos
Em minhas mãos
o mundo cabia
O manipulava
feito uma criança
A brincar com
peças de montar
E era canhestro
como sou até hoje
Meus dedos se
atrapalhavam
A ponto de,
muito depois, me
Perguntar se
teria me saído melhor
Se sem eles
tivesse nascido
Mesmo assim
lograva montar o
Mundo que
existia em minha
Cabeça, o único
que até hoje
Faz algum
sentido, aquele em
Que me via
diante do portão
Da tua casa
apertando a
Campainha, por
um instante
Sem me perguntar
nada