Incolores cores

O sujeito entra no palco. A plateia o aguardava havia horas. Mais de oito bilhões de homens, mulheres e crianças que mal se continham de ansiedade.
O sujeito empolga o microfone e saúda “boa noite!” e um coro de oito bilhões de vozes replica “boa noite!”.
O sujeito faz uma mesura.
“Vocês estão aqui para ouvir o segredo.”
A turba aplaude. Metade ovaciona.
Sim, eles querem ouvir o segredo.
Cada um deles saiu de sua casa, enfrentando as mais díspares condições de saúde e transporte e locomoção, para saber do segredo.
“Queremos saber o segredo!” pipoca aqui e ali na vastidão do oceano de gente.
“Me desculpem todos, mas esqueci o segredo enquanto subia a escada que traz ao palco. Lamento muito, sinceramente.”
O turbilhão compacto de bípedes começa a se desmanchar pelas beiradas. Aos poucos um a um ruma de volta para casa.
Nesta noite a humanidade toda, a humanidade inteira se fez poeta.

E conheceu intimamente a liberdade.