Você também demora pra
sacar as coisas?
Ah, eu levo séculos.
Sou inteligente pacas.
Mas levo séculos pra sacar as coisas.
E já saquei faz tempo
que muita gente burra por aí saca as coisas assim ó, num estalar de dedos.
Sempre foi um dos meus
problemas, demorar pra sacar as coisas.
Quer dizer, problema se
visto lá de fora. Visto aqui de dentro é uma tragédia.
Um milagre.
Um salvo-conduto pra
chegar aonde passei a vida inteira tentando chegar, ao que sou hoje hoje ó.
As coisas, fico
pensando. Ah coisas. Quantas coisas.
Sou tão simples, puxa
vida. Feito só de mim mesmo. O mundo não podia ser igual?
Tenho essa desconfiança.
De que não confio no mundo porque o mundo é tão diferente de mim.
Podia ter alguma
correspondência, não podia?
Sei lá, as quadradezas
lá fora, as quadradezas aqui dentro, as linearidades lá fora, as aqui dentro...
No começo tentei. Claro.
Claro que tentei, puta merda.
Se lá é assim, aqui deve
ser também.
Ah, você vai dizer, ah
você vai dizer o que sei que vai dizer.
Vai dizer o que vai
dizer, meu jesus amado.
Ah meu jesus, por que
tantas vezes lhe declaro meu amor e não me atendes?
Não me deixa aqui com
esta minha cara de tacho.
Não quero ficar
pensando.
Veja você aí fora, veja como escrever é enfiar dois dedos na goela e vomitar a alma.
Sabe qual o problema?
(Além daquela noite em
1969 em que fiquei diante daquele casarão sem saber se entrava ou saía?)
É que atrás duma palavra
sempre vem outra.
E por isso este é o mais
brilhante blog da Terra.
Aqui as palavras nunca
morrem.
E só estacam seu fluxo
quando a exaustão me vence.
Sou um escritor exausto.
E você não merece que
minha testa secrete uma só gota de suor extra por eu ter me formado em mim.