Filho

me olhas com o olhar doce dos teus olhos insatisfeitos a
irradiar da tua particularíssima sabedoria raios que em outras ocasiões me cegaram
tua boca me sorri teu sorriso de lábios sinodais e
teus poderosos dentes emitem átomos relampejantes que me sinto na obrigação de abrigar no ninho forrado de gelo do meu coração
nascido farto de padecer eterno jejum
teus lábios, vejo, prestes a se abrir
vais falar
uno minhas duas orelhas numa nau portuguesa inflável, me preparando para recolher as palavras que num instante começarão a pular da tua boca em fuga da tempestade surda que funde e dilacera teus pensamentos
enquanto correr o fio da tua voz, serei tua pátria
pelos instantes mais efêmeros desde que o tempo existe, seremos xifópagos de cabeças aderidas pela farinha de bolo das nossas infâncias
criança minha, poderás tremer nos meus braços
não serei um enigma, prometo
mesmo que não queiras