A mão livre para pegar
O indicador se mexe ligeirissimamente
Contra a vontade
Na cabeça, um pensamento indigesto qual
uma lata de óleo de motor entalada na garganta
A garganta não sabe como engolir uma lata
de óleo de motor
A cabeça não sabe pensar o pensamento
A língua ameaça um levante – os ouvidos não
querem escutar sua manifestação
Que pode contaminar os demais
Abruptamente o controle morre, exaurido
de existir
As pálpebras se espremem
Os dentes rangem
O peito desinfla num sopro estrênuo pela
boca relutante
Pretensioso sol
Banha o mundo de luz amarela
Arranca os mistérios da face singela
Dessa moça que tem preguiça de amar
Chegou a hora de identificar as coisas do
mundo
Traçar uma linha entre a coragem e a faca
Decepando a mão que hesita em fazer seu
trabalho
Sob o pensamento que é falso
De que adianta aventar explicação?
Cada um de nós é uma fortaleza inexpugnável
Travestida de castelo do reino encantado
Cruzamos no lusco-fusco da noitinha de
dezembro
Me dás o presente de todos os anos
Cuspo fora o chiclé
Corte
Mergulho na insônia de séculos
Rodopio em cores psicodélicas pastéis de
ranço
Monstrengos do mundo dos mortos não me
assombram
Enfim atinjo a neutralidade do avesso
Nem a nostalgia me serve mais de consolo