Instantâneo VIII

Surpresa
Felicidade
Não imaginava, depois de tantos anos de silêncio
Esperando a morte
O sol nascia, pronto, hoje acaba tudo
É que sou meio fantasista
Não sei olhar as coisas como elas são
Não quero olhar as coisas como elas são
Desprezo quem olha as coisas como elas são
As coisas não são como elas são
Sou meio romântico
Tenho essa queda por deixar o mundo de verdade de lado para recriar outro a meu gosto
Embora não goste de nada
Afora a música
Mas não de todas
Gosto da música que não me faz perguntas
Quando escuto uma música que não me faz perguntas me dá vontade de dizer o que penso
E responder num ímpeto
Imediatamente me contenho pensando
Não, não posso mais ser impetuoso
Então fico uns momentos reelaborando a resposta original em que tinha pensado
Reelaboro, reelaboro, até que puf! some tudo
Por isso fico em silêncio
Por vários dias
Vários dias a fio
Gosto de silenciar por vários dias a fio
Sabe por que silencio?
Porque quero dizer não sei o quê
Quero dizer não sei como
Então me ponho a ponderar
Ponderar, ponderar, ponderar
Quanto mais pondero, mais confuso e hesitante fico
É que sou fantasista
Sou romântico
Presa fácil da paixão
Apaixonado, morro de medo das perdas
É que sou meio fatalista
Tudo que ganho acabo perdendo
E quando não perco faço uma forcinha
É que sou meio perdedor
Escrevi um dia alhures que sou um perdedor de estrelas
Procuro perder uma por dia
Pelo menos
E quando a perco, componho uma música
Uma música tipo um mantra
Com o objetivo de amolecer corações duros
umedecer olhares firmes
enternecer a marcha inclemente do destino



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