LOUCO
LÚCIDO
escrevi
num pedaço de cartolina e pendurei no pescoço
E
saí
A
zanzar zonzo pelas ruas
Uma
menininha logo apontou pro meu peito e disse:
“Olha, mamãe. Um louco
lúcido!”
E
a mãe:
“É feio apontar, filha.
Olha que o homem te morde!”
Preciso
escrever LOUCO LÚCIDO DESDENTADO
Num
pedaço de cartolina
E
pendurar no pescoço e sair a zanzar
Zonzo
pelas ruas
Como
se atrás do meu precavido anúncio
Houvesse
a necessária explicação
Subtexto
à satisfação dos professores que
Não
têm o que ensinar e sossego dos pais
Mortificados
de pavor que seus rebentos
Caiam
nas garras dos malucos que perambulam
Pela
cidade
Não
me exija nada
A
ciência ainda não inventou – e queiram os céus que nunca invente – um xarope
que nos torne iguais
Que
nos transforme no que desejem que sejamos
De
me minha parte não tenho exigências.
Não
quero nada de você
Não
quero nada de ninguém
Não
vim lhe pedir licença para ser quem sou
Não
me exija que eu seja feliz
Tenho
medo de quem se diz feliz
Não
se choque.
Não
sou fugitivo do zoológico
Não
sou fugitivo de mim mesmo.
E
não fugindo de mim mesmo
Não
sou meu mais implacável carrasco
Eis
a única liberdade digna do nome
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