Instantâneo XXXIV

Um mundo entre aspas
Quem diria que você viveria nele?
Ninguém diria
Que importa o que alguém dissesse ou deixasse de dizer?
Eles já disseram tudo, não disseram?
Disseram sem aspas, não disseram com aspas
É um mundo estranho, esse
Mais do que aquele lá fora
Um mundo intratável
Em que você estabelece "relacionamentos" com  preâmbulos e aproximações e recuos que são diferentes daqueles do nosso mundo “normal”
Um mundo em que é absurdamente fácil fazer amigos, conhecer pessoas, conversar com estranhos
Tudo com aspas, obviamente
Ah, as velhas de guerra aspas
Crescem a cada minuto, engolfando nossas palavras cujos significados pretendem retocar, deixando no lugar um impossível vácuo
Nesse que é o mundo dos mal-entendidos, que levam a embaraços que levam a decepções que resultam em franca hostilidade
Porque o velho ritual que lá fora aplicamos quando fazemos amizades aqui carece de preâmbulos e aproximações e recuos
Não me surpreendo com este vasto mundinho entre aspas
Guardo em minha natureza o rito sumário
Lá fora só sei entrar de sola e não me espanto com os espantos que causo em melindrosas personalidades
Aqui, vou aprendendo que tenho ainda muito a aprender
Não sou político, não tenho tato, não me preocupo com formalidades, protocolos ou diplomacias
Escrevo esta declaração dentro deste meu permanente, deste meu eterno processo de auto-esclarecimento e autocompreensão
Quando me dou conta de que preciso compreender algo – sei que não preciso compreender muitas coisas e muitas pessoas --, escrevo
É o método mais rápido
Neste infinito, admirável mundo entre aspas temos de ser absurdamente rápidos
E esperrrrtos como nunca fomos antes

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