Da série "Novos contos para crianças", VII

Zé Peixoto é um peixinho inquieto e solitário. Zanza nervoso e sozinho dentro do aquário sem saber direito o que fazer. Nem aonde ir.
Já cansei de nadar – se desanima o inquieto e solitário Zé Peixoto. – Queria ser igual a esses bichos lá de fora que têm pés e podem andar onde lhes dá na telha.
Numa errada manhã dum certo dia, Zé Peixoto sente-se assaz angustiado e convoca a família e alguns amigos.
Pessoal! – anuncia, abanando as barbatanas para que todos se aproximem e não percam nenhuma de suas palavras. – Pessoal, não dá mais. Vou pular fora.
— Fora donde? – inquire a Martinha Mara Maid, sua prima em segundo grau.
— Do aquário, ora bolas! – Zé Peixoto não tem lá muita paciência com peixinhas lindinhas que se esqueceram de desenvolver os neurônios.
Um zum-zum se cria no ato, como era de esperar. Zé Peixoto distingue alguns comentários a meia-voz, tipo “Nossa, o Zé perdeu o juízo!”, “Essa eu quero ver!”, “Já pulou tarde, hehehe...”
Zé Peixoto rebate as barbatanas, pedindo silêncio.
— Já tá decidido, peixada boa. Até a próxima!
E tchibum. Lá se vai Zé Peixoto para fora do aquário.
Sem pernas pra que te quero, Zé Peixoto logra se afastar uns dez, vinte centímetros no máximo, à custa de intenso contorcionismo e palpitação. Quando se vê incapaz duma reles remexida no rabo, abre a boca e fica lá parado, arfando, olhos estatelados de peixe fora d’água.
Passados uns segundos, suas escamas começam a cair, sendo substituídas por um couro gosmento e úmido e grosso que não para de coçar. A cauda, outrora magnífica de translúcida, some para dar lugar a dois cotoquinhos remotamente assemelhados a patas.
Zé Peixoto sente o peitinho bater mais e mais acelerado. A prosseguir em tal situação, não dura mais um minuto, na certa.
Então Zé Peixoto resolve fazer o caminho de volta. Experimenta umas contorcidas, até que se anima. Agora está mais fácil que a ida.
Acercando-se do aquário, glupt! salta tchibum! para dentro splash!
Zé Peixoto mergulha chuá chuá chuá, afunda, dá cambalhota, a palpitação reaparece.
Zé Peixoto se retorce de volta à tona. Escancara a bocarra, se enche de oxigênio. Mesmo assim sente falta de ar.
Tenta se locomover requebrando o torso mas continua imóvel. Não sabe mais nadar.

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