Zé
Peixoto é um peixinho inquieto e solitário. Zanza nervoso e sozinho dentro do
aquário sem saber direito o que fazer. Nem aonde ir.
Já
cansei de nadar – se desanima o inquieto e solitário Zé Peixoto. – Queria ser
igual a esses bichos lá de fora que têm pés e podem andar onde lhes dá na
telha.
Numa
errada manhã dum certo dia, Zé Peixoto sente-se assaz angustiado e convoca a
família e alguns amigos.
Pessoal!
– anuncia, abanando as barbatanas para que todos se aproximem e não percam
nenhuma de suas palavras. – Pessoal, não dá mais. Vou pular fora.
—
Fora donde? – inquire a Martinha Mara Maid, sua prima em segundo grau.
—
Do aquário, ora bolas! – Zé Peixoto não tem lá muita paciência com peixinhas
lindinhas que se esqueceram de desenvolver os neurônios.
Um
zum-zum se cria no ato, como era de esperar. Zé Peixoto distingue alguns comentários
a meia-voz, tipo “Nossa, o Zé perdeu o juízo!”, “Essa eu quero ver!”, “Já pulou
tarde, hehehe...”
Zé
Peixoto rebate as barbatanas, pedindo silêncio.
—
Já tá decidido, peixada boa. Até a próxima!
E
tchibum. Lá se vai Zé Peixoto para fora do aquário.
Sem
pernas pra que te quero, Zé Peixoto logra se afastar uns dez, vinte centímetros
no máximo, à custa de intenso contorcionismo e palpitação. Quando se vê incapaz
duma reles remexida no rabo, abre a boca e fica lá parado, arfando, olhos
estatelados de peixe fora d’água.
Passados
uns segundos, suas escamas começam a cair, sendo substituídas por um couro
gosmento e úmido e grosso que não para de coçar. A cauda, outrora magnífica de
translúcida, some para dar lugar a dois cotoquinhos remotamente assemelhados a
patas.
Zé
Peixoto sente o peitinho bater mais e mais acelerado. A prosseguir em tal
situação, não dura mais um minuto, na certa.
Então
Zé Peixoto resolve fazer o caminho de volta. Experimenta umas contorcidas, até
que se anima. Agora está mais fácil que a ida.
Acercando-se
do aquário, glupt! salta tchibum! para dentro splash!
Zé
Peixoto mergulha chuá chuá chuá, afunda, dá cambalhota, a palpitação reaparece.
Zé
Peixoto se retorce de volta à tona. Escancara a bocarra, se enche de oxigênio. Mesmo
assim sente falta de ar.
Tenta
se locomover requebrando o torso mas continua imóvel. Não sabe mais nadar.
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