Insuficiência lírica III

Longo tempo atrás pensei que era poeta
Naqueles dias era um poeta como então pensava fossem os poetas
Sendo o poeta que pensava ser a escrever versos como estes:

Me dá uma lágrima
Quero um sorriso
Um sorriso então me dá
Mas quero uma lágrima

Naqueles dias me dizendo poeta me achava capaz de chorar c’ um olho e sorrir c’o outro
E se preciso fosse gargalhar aos prantos

Houve um tempo em que pensava existir no mundo e nas coisas um limite
Um limite que parecia ao alcance das minhas mãos
Um limite que parecia caber na envergadura dos meus braços

Foi, acabei de descobrir neste instante, o tempo em que tudo tinha um contrário e cada palavra tinha um antônimo e toda pessoa que via passar na rua tinha um sósia do outro lado do planeta

E foi o tempo em que as aparências tinham um avesso
E o normal podia ficar de cabeça pra baixo
E todo certo correspondia a um errado
E o ódio podia facilmente ser combatido com o amor

E tinha um antípoda
Que um dia haveria de encontrar
Provavelmente ao acaso
E então nos amalgaríamos em um único
Eu que não seria ele
Nem eu

E nesse dia minha verdade
Triunfaria sobre meu inverso
E enfim seria capaz de sorrir
Impune da fatalidade

Do castigo

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