Insuficiência lírica II

PSIU!
Nos conhecemos?
Me desculpe a pergunta ambígua.
E direta.
Sou dos que falam na lata.
Andei sumido?
De onde?
Desisti?
De quê?
Poderia supor que você está se referindo a alguém.
A alguém com quem já viveu uma história.
Mas hoje não vou supor nada.
Hoje não serei de suposições.
Se supusesse, suporia que nos conhecemos.
E assim poderia lhe dar um alerta:
Cuidado: transmito germes.
Não muitos. Dependendo do dia, distribuo vírus, espalho bactérias.
Dependendo da noite, vermes.
Num deles me amarro pacas:
O da ideia da morte.
Meu poeta preferido, obviamente, é Augusto dos Anjos.
Como Augusto, me obceca a extinção (a de mim, a dos outros).
Bem como a aniquilação, a destruição, a deterioração, a devastação, a ruína.
Cuidado! É verme invasivo.
Quem conversa comigo por meros dois minutos já sai por aí, por lá, por todo canto cantarolando alegremente as delícias de esticar as canelas.
Tenho outros defeitos mil, bien sûr.
Um deles, essa mania de proferir umas obscenidades.
E sabe o que é pior?
O pior é que profiro obscenidades só pra escandalizar.
No fundo, e no raso, sou um moleque.
Com todas as desvantagens que moleques têm: irresponsabilidade, frivolidade, crueldade, irreverência, vaidade, amor por caprichos, astúcia, arbitrariedade, idade, ade, ad.
Como estou bonzinho esta noite, vou superar minhas deformidades de caráter só por um instante:
Cuidado!
Sou, acima de tudo, eu mesmo.
E quando sou eu mesmo, saio por dentro de mim procurando poesia.
E fazendo.
Ou tentando.

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