Ai que gana de chupar manga

Tem dia, tem noite, tem hora demoro demais pra extrair um pensamento lúcido, inteligível da minha cabeçorra asilo de loucuras e arrumar algo digno de dizer.
Nunca estou bem certo.
Nunca estou certo de nada. Nem quero estar.
Não quero ter certezas. Nunca quis. Óbvia, clara, evidente, lógica, naturalmente é fatal.
Darwin abominava os incertos.
Você que se foda, Charles.
Me aporrinha a convicção com que todo mundo anuncia suas certezas vãs.
Foram bons alunos do mundo e aprenderam todas as lições da vida e agora podem enfim se dedicar pachorramente a ensinar a terceiros com quantas mentiras se faz uma verdade.
Me aborrecem mortalmente pessoas que vivem a hastear bandeiras coloridas e ruidosas estampando majestosas seus princípios espúrios e patéticos porque imaginam piedosamente que a lei da física pela qual a natureza não tolera o vácuo pode aplicar-se vicariamente aos nossos sentimentos e às nossas ideias e às nossas incertezas que tais pessoas tão grotescamente querem converter em veredictos. (Estou meio lusitano hoje. Não significa que amanhã ainda estarei. Para espanto dos "racionalistas" empedernidos.)
Escutem duma vez por todas, porra: sou um poeta com aversão à poesia.
Não!
Não me digam que há um paradoxo aí. Me poupem de seus julgamentos ansiolíticos.
Sim, estou ciente - fariseus positivistas travestidos de humanistas precisam do benefício do alerta. Precavidos, contornam cuidadosamente os “paradoxos” que encontram pelo caminho.
Não há nada de paradoxal num poeta averso à poesia.
Não há nada de paradoxal em nada.
“Paradoxos” não passam de ataques intolerados por nossa frágil cabecinha deseducada a aceitar a impermanência dos pensamentos sobre as coisas.