Despencando vem a noite. Desconectando. Deixo um olhar assestar para o céu.
Desliza pra cá. Escorrega pra lá.
Prosseguindo.
Descontinuando.
Silêncio desmudo. Queria que esta
prece não soasse assim.
Desmontando.
Queria dizer que estou cansado. Algo definitivo
ocorre em mim quando digo que estou cansado.
Mas chegou a hora de dizer que estou
descansado.
Eu sei, eu sei.
Se todos meus dilemas se reduzissem a
abrir ou não um parágrafo.
Todos meus dilemas se reduzem a abrir ou
não um parágrafo.
Descansado.
Dum longo dia de tédio.
A enésima noite a se aproximar sem mistérios.
Diz lá, imisteriosa imensa, que não mistérios
me trazes desta vez para que não os decifre?
Batem asas sorrateiras, surdas, inefáveis
em tuas franjas tentando escapar ao poder do teu fascínio? Perecem vultos humilhados de agonia por trás de tuas sombras? Se avoluma a tempestade das tempestades, a maior, a derradeira, ominosamente em teu âmago?
Diz lá, dama sem enigmas, diz a este teu
escravo voluntário. Que ao nascer jurou a si mesmo renunciar a todas as
alegorias e parábolas.
Nada em teu pífio céu se atreve a
capturar minha vontade.
Me trais contigo mesma, te trais contigo
mesma, autossuficiente que és dos teus amores, farta dos teus meigos rancores.
Ah! Eis ali uma nuvem!
Meu peito desafoga, por um segundo meus
olhos se deslumbram.
Por um segundo, desejo.
De ti órfão me vejo.
A nuvem passa carregada de água e eletricidade.