Depois II

Por que o uísque tá acabando e não estou preocupado?
Por que o mundo tá acabando e não estou preocupado?
O primeiro beijo que te dei, pensei que nunca fosse acabar.
Não, deveras, in a sense. (Continuo me constrangendo quando resvalo neste meu confessionalismo exacerbado.)
A serpente guardiã do éden subvertendo minha opção pela tristeza, a descoberta, na tua língua insossa, do gosto da vida.
No more hora de acordar.
A aterrissagem no céu, não precisava pedir perdão pela fraude, wait, o yes wait a minute mr postman.
(O menino de 14 anos deixou sua casa e sobreviveu.)
A condenação a repetir cada sentimento, cada gesto, cada olhar, cada palavra até me convencer da benéfica prisão.
Tua língua dentro da minha boca me libertava do vácuo, a música contrapesando a incapacidade de viver.
Você acreditaria que cada um de nós tem um prazo de vencimento? um prazo arbitrário, não determinado pela natureza nem pela predestinação nem por uma divindade?
Aquele menino venceu aos 14. E desde então vem sendo punido pela sobrevida não prevista ou estipulada sei lá onde.
Bota música outra vez, o mais próximo da vingança ao meu alcance.
Aí vai...
Nem todos temos direito ao sublime e os deserdados, quase todos eles, se recusam a aceitar sua sina. Também demorei a admitir que não havia saída entre o fim e a humilhação.
Não, minha querida. Nunca é hora de acordar.
Ou de dormir.
Dancemos noite adentro. Teu rosto roçando no meu. A inédita pele a me convidar, vem, vem ser feliz, o perfume do teu cabelo esfarelando meus planos.
Não, não é hora de dormir.
Que faríamos adormecidos?
Sonharíamos?
Nem é hora de acordar.
Que faríamos acordados?
Viveríamos?