Como fazíamos naquela época em que no
quarto não havia uma tela de computador mas apenas o grande espelho da
penteadeira da mana?
Mamãe e papai na sala enterrados cada
qual em seu passado, mudos e atônitos com o presente diante do semblante sisudo
do homem do Repórter Esso?
A mana em si, a mana propriamente dita, ausente
de sua própria banqueta frente à penteadeira, raramente encontrável em outro
lugar da casa, como se nunca tivesse feito parte da família?
Lá fora, roncos de carros e caminhões e ônibus,
silvos indistinguíveis, guinchos distantes de pneus, o zumbido do avião das dez
em seu rumo desconhecido, a algazarra dos entregadores de leite na padaria às
quatro da matina?
Aqui dentro, a gritaria silenciosa, desesperadora?