Munificiente

Lembra do poema que te fiz?
No dia seguinte estava puta quando nos cruzamos na padaria
Eu pedindo meia-cerveja, você, meia-dúzia de pãezinhos
(bem tostadinhos, viu moço?)
(O moço obedeceu? Não tive tempo de olhar. Estava observando o balconista encher meu copo.)
Te olhei então co’ canto do olho. Já estavas diante do caixa, caçando moedinhas no porta-moedas.
Foi então que fiz o poema
Pois foi então que me lembrei: sou poeta
Poetas devem fazer poemas, mesmo numa padaria
E inventar uma musa
Mesmo que compre pãezinhos a quatro reais o quilo
Preciso me animar, pensei
Preciso sobreviver
Estou encharcado de necessidade estética
Qual um calouro na primeira aula do primeiro semestre de Estética da Filosofia
Não posso perder as referências, se é que me entende.
Não fique sentida, não tenho jeito
Só quero que saiba que o poema que fiz pra você aquela manhã
Ou foi à noite?
Na padaria enquanto apanhavas o saco de pãezinhos e eu investigava o fenômeno da garrafa a se esvaziar enquanto o copo se enchia
Foi sincero
Naquele  momento
Em que o fiz
E em outros também