Duas da matina e ainda acordada, Wilma?
Desiste. Teu príncipe encantado não vem.
Teu PE está confuso, teu PE está perdido,
teu PE é uma lástima.
Com medo de dormir os 100 eternos anos,
né, Wilma?
Wilma, olha, não fica triste mas não
existes.
Como é que alguém que não existe iria fazer
parte da minha vida?
Hein? Hum? Hã?
Olha, Wilma.
Prometo te compor um canto fúnebre e
encomendar um serviço de primeira no cemitério das Lágrimas.
O pior sou eu, Wilma.
Fiquei desolado – te imaginava tão
lindinha, menininha, inocente, tão gaia, brejeira e meiga. Por tua causa agora
estou sofrendo.
Mas isso ainda não é tudo, Wilma.
Sabe o que é pior nessa história?
O pior de tudo é que terei de me livrar
também da Wanda, tua mãe.
Mas que faço? Viajo?
Viajo, Wilma?
Diga, Wilma!
Por que todas minhas musas ficam mudas duma
hora pra outra, Wilma?
Por que todas minhas musas ficam mudas cedo
ou tarde, Wilma?
Me perdoa, Wilma.
Sou apenas um sujeito lamentável.
Candidato melodramático a poeta.
Tudo pra responder a teu beijo?
Mas se não existes, Wilma!
Já disse que não existes, Wilma.
E se não existes, teu beijo haverá de
existir menos ainda.
Beijo, Wilma.
Dorme, Wilma. Dorme instantaneamente,
como soem dormir os de consciência leve.
Não sonha comigo, já disse.
Não mereço um sonho, por fugaz e
aborrecido e preto e branco que seja.
Sou um fiasco.
Nasci para fiasco.
Não sei ser outra coisa que um insolúvel
fiasco.