Sil,
Será que se te desse um beijo, você se
transformaria de novo na princesa que conheci?
Ou não é assim que as coisas funcionam no
mundo “real”?
Correríamos o risco de nos transformar a nós
dois em inesperados entes?
Não era assim que as coisas funcionavam
entre nós?
Lembra a noite que te disse,
Por que é
que, para me aproximar de você, tenho de me distanciar tanto de mim?
Eis-me novamente aqui às voltas com minha
solidão.
E sempre que digo que estou às voltas com
o que quer que seja, me lembro que meu mundo parou há tanto tempo, nem lembro
quando.
Foi talvez numa época – que não sei bem
se houve de fato – em que costumava dizer coisas como “era assim que as coisas funcionavam”.
Pareço recordar que naqueles tempos as
coisas eram tangíveis e havia, sim, algo mágico nelas e no mundo e nas pessoas
e tudo e todos funcionavam – ou a mim ao menos assim parecia – e eu não
precisava recorrer à mágica nem a qualquer outro truque mental para que o meu
girasse...
... nas voltas que meu mundo já não dá.
Você certamente dirá que exagero – o mundo
de ninguém deixa de dar voltas.
E certamente acrescentará: estamos todos
juntos neste planeta, afinal, e a ninguém é facultado o direito de se excluir
da destinação humana.
E, pela enésima, ficarei mudo.
Pois não saberei o que responder.
Mas, aqui dentro de mim, continuarei
certo de que não, meu mundo já não dá voltas.
E cada um de nós terá então provado ao
outro sua visão.
Você, a de que a vida pertence aos
pragmáticos.
Eu, a de que você está certa.
Mas o que eu queria provar mesmo é que
não sei, nem quero saber, a diferença entre minha poesia e minha prosa.