A primeira vez que entrei no Mar não
pensei em fazer um poema.
Só fiquei lá em pé, atarantado pela fuzarca
sensorial, entregue à incapacidade.
Solas dos pés apalpando o fundo, a velha
frialdade desconhecida da água que até um segundo atrás era familar, os buquês de
espuma enfeitados por mim.
Notei então que o Mar não tem antecedentes.
Tem só o olhar e o sentir.
A primeira vez que entrei no Mar estava
insciente das profundezas.
Saquei, vagamente, que nasci para as
superfícies.
Esse manto que recobre todas as coisas. E
que optei, não por vontade própria, por acarinhar na travessia dos largos
segundos antes de fechar os olhos de má vontade e dormir sob intimação alheia na noite que pertence a outro.
As ondas vinham vindo.
Podia ter pedido ajuda.
Mas não. Este Mar será meu, lembro de ter
firmado o acordo comigo mesmo.
Entrei no Mar outras vezes e todas as
vezes foram as primeiras.
Por quê?
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