Até a maturidade, costumava pensar que o
melhor lugar para cantar era o box do chuveiro.
Hoje, depois de tantos carnavais,
finalmente me dei conta.
É a privada.
Durante a urinação, o carma cósmico conjuminado
à função fisiológica produz uma epifania que os não iniciados podem tomar
erroneamente como o êxtase.
Mas só na defecação, aliada a um instante
prolongado de ausência, em que de repente o sentido da vida, e da morte, se faz
solidamente presente em nosso rabo, é que as fronteiras que separam nossas duas
dimensões, a corpórea e a espiritual, têm a chance de esvanecer para que o ser nascido
para aspirar à unidade cósmica possa finalmente ousar seus quinze milissegundos
de fama no palco universal dos anéis de Saturno.
Num momento desses, sou capaz de cantar
Mozart.
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