I want you, I need you, I love you

De repente, saiu da adolescência.
A beleza, se apurando até então paulatinamente, atinge a impossível perfeição.
E à medida que ela ficava mais e mais bela, o menino se deixava mergulhar mais e mais e mais na paixão.
E um dia, assoberbado ao intolerável, prometeu a si mesmo que não viveria mais outro dia sem tê-la.
E se um dia a tivesse, jurou a si mesmo que jamais iria perdê-la.
E enquanto o menino, no ínfimo cantinho que a vida lhe reservara com a incumbência de aprender a bastar-se sozinho, se corroía de amor, ela não imaginava que àquela hora insuspeita da tarde, passando melancolicamente por um beco das docas do porto de Santos, ele arriscou uma espiadela para dentro de um dos armazéns e vislumbrou um daqueles cadilaques americanos que eram o desejo mais profundo de todos os meninos do Brasil e num átimo sonhou que parava em frente à casa dela na Califórnia e buzinava e ela abria instantaneamente a porta da mansão e saía correndo, cabelos esvoaçando sobre os ombros, dentes à mostra no sorrisão inédito, olhar fixo no dele, e entrava no Cadilaque e os dois partiam num passeio eterno pelas luzes e sombras do dia, sem passado e sem futuro, sem rumo nem lugar, sem memória nem reflexão.

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