Quando o mundo acabar só sobrarão os franceses

Acabo de assassinar uma crônica.
Não satisfeito, trucidei um poema.
Meu cérebro dá o caso por encerrado.
Mas meus dedos ainda guardam três ou quinze espasmos nervosos.
Como foi que aconteceu?
Mais ou menos assim:
Quebrei a cabeça. Primeiro erro fatal.
Arbitrei que o conserto era uma citação. Segundo.
Desatinado, concluí que uma segunda cairia bem. Terceiro.
E citei, padre. Citei uma carreira. Que em vez de me levar mais e mais longe, me perdia cada vez menos dentro.
A cabeça só quebrando.
Esgotadas as inesgotáveis citações, me vejo num campo.
Um campo branco. Não sei onde começa, não imagino onde termina.
Algo no campo me chama. Está querendo me seduzir. Aperto os olhos, desconfiado. Desde quando branco é sedutor?
Então me lembro da crônica falha. Pior: Paulo Mendes Campos.
Uma onda interior de verve passa vasquejando. Trepado na prancha, subo e desço. E emito uma sonora gargalhada muda, claro.
Fecho as pálpebras. Finjo dormir. Cutucão no baço.
Minha gargalhada muda ecoa janela afora pela noite conturbada de sono. A cidade acorda por dois segundos.
E deus desmaia. Não sem antes balbuciar “Dá um tempo, cara!”
Vou pensar.

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