A A de Poá

Não há absolutamente nada de arrogante em propagandear nossa arte.
Mas o que sem dúvida existe é um pudor — ou dor de cotovelo, se você preferir — generalizado, uma má vontade das pessoas perante aqueles que criam.
As gentes por aí discorrem sobre Shakespeare, Goethe, Kant, Machado, Carlos Zéfiro assobiando e chupando cana, como se tivessem devotado décadas de estudo a cada um desses gênios.
Mas se um retumbante desconhecido como eu aparece c’um trabalho para debate, todo mundo e sua esposa olha pr'outro lado fazendo de conta que não viu.
Por que será que é tão mais fácil elucubrar sobre os medalhões e não tomar conhecimento dos peixinhos pequenos? Será que carinhas temem encher a bola dum de seus pares? Reconhecer num desconhecido algum talento e/ou autoridade?
Me parece que um dos problemas é que tendemos a sacralizar a literatura, elevando-a ao nível do etéreo e do divino, como se o que criamos não se prestasse ao consumo dos pedestres.
Receamos que equiparem o que fazemos a caixas de sabão em pó. (Eles, os “experts” em Shakespeare de fato o fazem e esnobam os criadores. Mas isso não deve te impedir de mostrar ao mundo teu trabalho.)
Os guardiães da Grande Arte querem que vivamos à sombra do Cânone. Pécora, crítico literário, decreta que não há mais literatura possível no século 21.
Então o que é que faço com minha compulsão a escrever?
Chega uma hora em que você tem de mandar todo mundo e sua prima se foder.
E essa hora chega rapidinho pra quem, como eu, precisa se expressar. À revelia dos eternos “críticos”.

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