Oi.
[
voz cavernosa e ameaçadora e lúgubre de locutor do inferno ]
Booooaaaa nooooiiiiteeeeee....
Hehe...
Não devia ter apagado teus scraps, eu nem
tinha lido.
Ops! não
tem problema, não. Ainda escreverei tantos outros... (mansa, mansinha).
Tu está
bem, amigo querido? Ontem continuei lendo os teus escritos. O intitulado “Barraco
metafísico na noitinha que chega', caramba... puxa, incrível, fantástico,
lindíssimo, lindíssimo demais. Terrível, engraçado, triste, triste...
Tô relativamente bem.
Mas não vou te perguntar o mesmo, daqui a
pouco me dás aquele pé na bunda, não tem sentido ficar com esse nheco nheco.
Tu tem
toda a razão (muito mansa).
Mesmo não
perguntando, eu estou um pouco apreensiva. Depois de vinte e cinco anos morando
no mesmo lugar, estou prestes à mudar de lar. Muito estranho isso. Lembra
quando esporrei sobre o sobrenome M? É, minha vovozinha, que o raio a tenha,
vendeu as heranças do meu querido pai, que Deus o tenha, deixando-nos à mercê
dos ventos que nos levarão para um apartamento bem impessoal. Ai, que raiva.
Antes de sair daqui, quero deixar mensagens em sangue e merda (acho que não vou
conseguir, essa última... Bem, acabou de vir a ideia de um pincel. Imagine-me pincelando
um cocô, para pincelar uma parede) nas paredes, pros estúpidos que ousarão
pisar e se apoderar do meu templo sagrado.
Huuuuuuaaaaaaaaaa.
Silenciando. Eu sei.
Você foi a única que elogiu meu barraco
metafísico.
Esse foi um daqueles que escrevi assim
vupt!
Dez minutos, pronto, feito, liquidado,
não precisa nem revisão.
Essa inspiração tá cada vez mais rara.
Tem coisa que escrevi há anos e não
acredito que fui eu.
E não fui. Foi outro. Eu era outro.
Tem hora, dá vontade de me plagiar.
Até já plagiei.
Todo escritor passa por isso.
Autoinveja.
Inveja daquele momento filho da puta
daquela arrebatadora intimidade com os sentimentos.
Isso é raro.
No mais das vezes é escrever na banguela,
fingindo que sente, usando a técnica vaziamente, sem daonde sair, sem aonde
pousar.
Isso que
tu acabou de escrever é algo de tanto valor e tão real que deveria se publicado
pra todo mundo.
Eu quando
pego meu caderno! e tento escrever algo, só sai coisa vazia, na maioria das
vezes.
É porque
eu sei que não olho pra mim. Quando não olho pra mim, fico tentando traduzir um
mundo que não me pertence. Com qual não tenho intimidade alguma.
Boa noite.
Te amo.
Há uns tempos comecei a desenvolver uma “técnica”
de buscar meus sentimentos pra escrever.
No começo era meio errático, com o tempo
fui descobrindo que era relativamente fácil achar os sentimentos quando saía
pra andar, quando lembrava de alguém há muito tempo esquecido, quando sentia um
cheiro tal como Proust quando detonou a Busca com o cheiro do biscoito no café.
Mas parece que me explorei além da conta.
Preciso investigar outras técnicas, avançar além do conhecido, tentar sensações
inéditas.
Tudo por escrever algo que preste.
Já tá saindo?
Obrigada
por compartilhar isso comigo.
Gostei do “me
explorei além da conta”. Não duvido nem um pouco que seja verdade.
Pois é, agora tô me aproximando de
malucos e malucas na internet pra ver se retomo a inspiração. Não é
state-of-the-art, mas não deixa de ser um caminho.
Obrigada
pela parte que me toca. Meia boca da arte. Essa foi foda.
Foi de propósito, minha linda.
Não quero que me leve a sério.
Não quero que se apaixone por mim.
Não quero que sofra, não quero sofrer.
Já te disse, você não escuta.
Precisamos querer tentar praticar a
frieza, é melhor. É melhor?
Sim, tem
razão (mansíssima).
Pratiquemos
a frieza, então. Inda que saibamos que no gelo existem os microorganismos
detentores, geradores e praticadores de vida. Ores, ores, oremos.
Eu não me levo a sério.
Sob a escala de valores éticos do mundo,
sou um cafajeste.
E seria mesmo que não quisesse.
Mas quero.
O dia que nos afastarmos de vez — e esse
dia haverá de chegar, eu sei, você sabe —, sobrará um nevrálgico vazio que se
juntará a outros inúmeros em minha cabeça e passarei o resto dos meus dias
lamentando ter perdido DM.
Não, esse dia é hoje.
Desde o primeiro minuto daquele dia em que
nos conheçemos, quando você elogiou um poema meu, venho lamentando que um dia
ganharia DM só, unicamente, exclusivamente para perdê-la hoje, amanhã e para
sempre.
Como poderia não ser assim se ser assim é
só o que me cabe?
Me ame sem me amar, peço.
Me admire me odiando.
Não há outra saída.
Nenhum comentário:
Postar um comentário