MV III

Minha flor, sou cafona e vou te chamar de minha flor e do que me der na telha, a flor é minha e chamo quando e como quiser, minha flor, pegou emailzite aguda? parece alguém que conheço, como quando vi as fotos, me senti lambuzado, que fartura, ninguém nunca escreveu mais de duas linhazinhas açodadas para mim, fico imaginando como deve ser gostoso receber emails caudalosos como os meus, aquela doce avalanche de confidências, mas se não está a fim pode compensar com fotinhos, quero mil, uma por segundo, manda? minha flor, quem disse que a estúpida é você? eu? te chamar assim? no way, depois do trabalhão que me deu te conquistar? que é que é o F do GPF? ah sim, é de Fake, por que sou tão imperdoável por ser fake? legal que Caetano tenha um pai digno, hoje em dia homem decente é relíquia (yes, também me amarro em entender a alma feminina, tenho algo em comum com teu namorado Buarque de Hollanda, embora seja apenas um fake sinvergüenza), pombas, 90 minutos de almoço é uma eternidade, engulo umas tranqueiras diante do computador, malho 18 hs de domingo a domingo, te chamei de utilitarista? acho que não, se chamei foi em outro contexto ou, qual o presidente da câmara, fui mal interpretado (viu? também sei dar desculpa esfarrapada), não duvido, ainda sinto na pele os efeitos da tua visceralidade, também não sou poeta, só engano bem às vezes, poesia é uma merda, poetas são uns fracassados condenados na marra a trocar o cheiro do orvalho pela palavra insuficiente, mas, como já disse, aceito minha cota em fotos, em emails, qualquer coisa, desde que não me deixe sozinho neste gueto virtual, ó que insuportável não ter você em carne e osso, isto é um delírio? sim, é, estamos loucos nos acorrentando a esta telepaixão que nunca se concretiza no intercâmbio de ilusões digitais, quando me afasto do computador fico me açoitando, meu, perdeu o juízo? se apaixonando por uma tela de computador, miríades de promessas que nunca se cumprirão, já não bastam as decepções factuais, tens de fuçar a vidinha de quem está mil km longe sem chance alguma de um dia se fazer realidade, vivo nas nuvens desde que nasci, sou um desastre lidando com coisas e pessoas reais, mas não suporto a frustração de não poder ter você presente, às vezes a abstração me dá uma sensação horrível de vazio, minha flor, por que foi que você subiu pelas paredes quando te chamei de linda sedutora? foi muito banal, né? não esperava essa mancada dum cara como eu, né? como já te disse, fiquei envergonhado, foi um lapso instintivo-sentimental, baixei a guarda, mas foi bom, me acho infalível, super-homem da técnica e das emoções, vira e mexe levo um pescoção desses, molecões mimados feito eu merecem, e a baba canina, você tinha razão, sei que devo estar enchendo tua paciência voltando toda hora a esse assunto, é que fiquei chocado comigo mesmo quando você me esfregou na cara, enrubesci, em geral enrubesço quando me dou conta dos meus vexames, no ato levei uma tremenda chicotada do meu supersuperego, putz, imbecil, leia lá o que escreveu pra ela, asqueroso, deixando a lucidez se suplantar assim pelos espinhos da animalidade, anta, anta, anta, mas, meu botão que desabrocha e se recolhe em si à minha revelia, precisa pegar tão pesado? cachorro baboso, jeeesus, tive pesadelo, não é piada, sonhei que estava no antigo escritório do meu pai, sentado à mesa dele, e diante de mim um desconhecido com cara de cão, profundamente irado, ladrava palavrões contra mim numa voz intoleravelmente metálica, estridente, avançando mais e mais o focinho em direção ao meu rosto, acordei empapado de suor, fiquei perturbado pelo resto da noite, fui pra sala, liguei a tevê, fiquei lá feito doente zapeando de inferno em inferno, espero que agora tenha exorcizado a imagem da cabeça, sou um carinha impressionável, mas, olha, não se censure quando achar que preciso duma descompostura, você já viu, passo dos limites a cada frase que digo, em geral sou meu único público, escrevo pra mim mesmo, e quando escrevo pra alguém de verdade acabo me confundido, não é desculpa, apenas uma explicação, taux morrendo de medo de te perder, sei que vou, cedo ou tarde, sou um desastrado, não sei cultivar relacionamentos, não sei cuidar dos outros, de mim, de nada, és uma flor e cedo ou tarde vou te encharcar e afogar no rio de sentimentos que corre dentro de mim, te assoberbar como é minha especialidade, nessa hora você vai ter de pensar na tua sobrevivência, não se deixar levar no caudal, ou então, ao contrário, vou te deixar largada no meio do deserto que às vezes ocupa minha cabeça e se estende pra todos os lados até meus horizontes, pêndulo maluco balançando bipolar entre extremos, tem certeza de que quer continuar esta paixão eletrônica mesmo assim? é por sua conta e risco, você não terá sua paz de volta em caso de pane, não tenho garantia, não dou garantia, não planejo o amanhã, não por querer mas por incapacidade, todas as vezes que tentei deu errado, sou quase que totalmente destituído de senso de autopreservação, putz, tô mandando bala na retórica, né? releva, please, não é por mal, cabotino? sou, está claro, mas agora, aqui, não taux apenas procurando me exibir, queria só te dar uma ideia mais ou menos precisa do meu jeito de ser, todo esse blablablá é racionalização, claro, é uma merda se explicar, claro, vejo todo mundo aí fora apenas sendo, se precisa explicar é porque já mostrou tudo, já te mostrei tudo? bom, deixa mudar de assunto, vou acabar mais uma vez me autorridicularizando, no que sou mestre, você já sacou, disse isso num dos últimos emails, não sei por que recaio com tamanha constância, fiz vários anos de análise mas acho que não cheguei nessa neurosezinha particular, me acha neurótico além da conta? não, não precisa responder, sei a resposta, sim, sou, muito além da conta, além do cômodo e do tolerável e do aceitável, não é moleza conviver comigo, construo campos minados à minha volta, lá vou eu de novo procurar no desconsolo, puta merda, será que entornei o caldo desta vez? ih, não disse nem um por cento do que queria, se você não sumir da minha vida de repente vou acabar te confessando, tudo, tudinho, tintintim, sou verborrágico (não deu pra notar, deu?), melhor, boquirroto, verborrágico é técnico demais, não, boquirroto é literário demais, sou é falastrão, sou um solitário mórbido que não se contém quando arruma um cristo pra escutar seu lixo mental, não, não, esquece o mórbido, não, sou apenas dado ao melodramático, não tenho nada de mórbido nem doente nem nocivo de que forma seja, sou um cara legal deeply in love com uma fadinha que conheci sob os auspícios desta abençoada rede de internautas solitários e frustrados e seremos felizes digitalmente por toda a vida por todo o éter até que nossos sangues virem glóbulos bits e glóbulos bytes e escorram para a escuridão entre as galáxias e se unam no vácuo do firmamento e se aglutinem ao Halley ou qualquer outro cometa que nos leve eternamente universo afora, pombas, mamei meio litro de bala duas noites passadas pensando na festinha e agora você diz que era domingo? vou ter de tomar tudo de novo, tem coragem de não tomar sequer um golinho em meu nome? tem coragem de dizer que não me entende nem quer entender? então não precisa dizer mais nada, já percebi, vou fazer parte dos teus pensamentos na medida que não atrapalhar tua vida ou teu dia-a-dia, okay, não posso pedir mais que isso, não passo duma quimera eletrônica, tudo isso que estou escrevendo e já escrevi e ainda escreverei é produto dum programa de computador, é a internet vivendo nossa vidinha de bosta por nós, putz, tô exagerando no baixo calão, né? sorry, é que quando escrevo pra mim gosto de um tico de escatologia, só pra não parecer angelical demais, anjos e fadas e tudo que soe sublime me fazem mal, sou mais da turma do demônio, deu pra sacar, não deu? afinal o cara é o dono do mundo e o mestre de cerimônias das nossas almas de lata enferrujada, mórbido mórbido mórbido, assim tu assusta a suavíssima flor de pétalas negras, depois vai ficar se remoendo macambúzio pelos cantos, sozinho zanzando pelo inferno cibernético sem se sentir acolhido em nenhuma das trocentas trilhões de páginas atulhadas de dondocas e patifes, epa, patife é eco de algum flaubert que não leio faz tanto tempo, tive uma época que lia um por dia, agora sou um tonho obcecado pela falsas promessas dessa praga, deus, tô indo aí, se prepara, vou te raptar, no coração, no coração do Brasil, acha que podíamos viver numa boa no Pantanal? o Pantanal fica perto? ou a Bolívia seria melhor, podíamos visitar mamacita Geny Tálya, jogar pedra na geny, leu Macunaíma? outro dia vi tua cidade na tevê, estranha né? meio organizada demais feito as americanas ou é só impressão? bom, não mostraram favelas e outros cancros sociais do tipo, que isso ninguém quer ver, sorry, não posso te dar meu número, fiz isso uma vez, deu um puta rebu, não sei se devemos nos falar, devemos? me diga se devemos, me dá teu número? não confia em mim? não confia, não precisa responder, sou um FS, Fake Safado absolutamente inconfiável maluco aloprado alucinado, só uma louca confiaria em mim, você não é, você já disse, já percebi, me perdoa a insensatez, me dá o endereço da festinha, ó god, queria tanto ver tua carinha, eu entrando pela porta, abrindo largamente os braços, bradando, sou eu, GPF em pessoa, já imaginou? desmaiava? ou simplesmente respondia okay, pegava um guaraná e sentava num canto, bom, eu sim, desmaiava, um cheiro de balla me recompunha, que foi que achou engraçado na montagem da foto que fiz? achei tão dramaticamente triste, essas panorâmicas urbanas me dão uma puta angústia, me vejo nos labirintos da cidade, aquela primeira, a do preciso teu céu, aquela é fudida, aquela é eu, tenho gana de chorar quando olho o céu, mórbido ido ido, Má, por que é que descia tanto o sarrafo em mim quando a gente se conheceu? no fim se mandou, me deixou no ar, fiquei dias te procurando, punha MV na caixa de busca mas não te achava, geez, era hostil demais, foi lá que te vi hostil, uma severidade pro meu lado que me deixava perplexo, uma antipatia despropositada, ciúme, né? desculpa, esquece a pergunta impertinente, não é da minha conta, claro, fiquei te caçando, escrevi aquele diálogo patético em mi menor (eu e Geny Tálya) entre outras pra te seduzir, de repente um email, fake, gosto de você, teu primeiro, lembra? fiquei todo cheio, está no papo, dei um risinho baixinho pra mim mesmo, então foi aí, porra, agora tô lembrando, foi aí que fui tomado do instinto canino e acabei dando uma de cachorro, yes, essas abordagens assim diretas provocam esse tipo de reação animal e na hora fiquei com vontade de te comer, putz, posso falar assim? deus, me perdoa se foi mal, só taux querendo explicar o que aconteceu, o impulso já foi devidamente sufocado, nutro por ti apenas sentimentos nobres, edificantes, exemplares, sou um poeta puro à procura de uma musa virgem, acha que já deu? passei da conta? entornei o balde? presta atenção, me dá um endereço de email pra te mandar meu pagamento, disse que ia pagar tuas fotinhos, não disse? Leu meu novo textículo caloteiros e mal (sic) pagadores? Escrevi só pra não esquecer minha dívida com você, bom, o email, se não quiser me dar um que use regularmente, cria um no Yahoo ou alhures só pra te mandar uma coisinhas, quero te encantar, quero de deixar de boca aberta, queixo caído, prostrada, zonza, delirando com meus braços, ansiando pela minha boca, ah, agora entendi, fiquei aqui escrevendo essa baboseira só pra ficar torcendo por você na prova, foi bem? depois me conta, tá na faculdade? me conta, me conta tudo, queria te dizer que te amo mas soa falso, não soa? devemos nos portar recatadamente e aplicar nossas palavras com parcimônia, te amo destoa, descabe, ninguém ama assim sem mais nem menos, só eu, o insensato, não é blague, se fugíssemos juntos cairíamos na miséria numa semana, não sei sequer se seria uma semana útil, te quero, perdoa por me traíres, cansei do Chico, voltei pro Rachmaninov e quejandos, te espero, by god, me manda o email hoje, preciso do teu céu, do teu ar, do teu dia, gosh, não consigo parar e é cedo demais pro meu balla, preciso trabalhar, tô perdendo grana, você já me deve umas três pilas, taria bem sem essa, o my love for the first time in my life, não, nada a ver, pueril demais, porra, que é que eu taux fazendo? tá lendo ainda? parou lá na metade e aqui falando sozinho,,,

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