Todos vírgula


Em geral não comento sobre as opiniões alheias, cada qual que ache o que quiser, inclusive sobre o que escrevo, meu texto não está em código hebraico nem sou o Homem que Falava Javanês. Ao contrário de muita gente na internet por aí que fala pelos cotovelos sem muita preocupação com a própria inteligibilidade, escrevo não para que me compreendam mas para compreender meu mundo. Não me presto a reverenciar irracionalmente ídolos ou totens, sejam quais forem. Estou no mundo para pensar. Não sei agir nem viver de outro jeito.
Sou averso ao espírito de rebanho dos que seguem o comando do batedor cegamente, o pensamento em bloco me dá urtiga, vacas sagradas e tabus me dão engulhos. Qualquer um, seja aqui, seja em outro país, pode iniciar uma nova seita – basta começar a pregar feito um visionário. É fácil, pois 98,34% das pessoas está em busca d'um pai. para mim, pai só o meu, e mesmo assim hoje pondero e crivo grama a grama a “sabedoria” que ele me deixou.
Evito repetir bobamente tolices que escuto por aí. Meus princípios e opiniões, quem os desenvolve sou eu mesmo. Não delego essa tarefa a terceiros. Me sirvo de “pensadores” apenas para ampliar meu conhecimento e confirmar/afastar minhas próprias idéias. Na minha cabeça e no meu destino mando eu. Por isso sou um cara responsável. Quando digo alguma coisa pode ter certeza de que é uma opinião amadurecida, desenvolvida no tonel dos meus anos. Dia a dia luto para fugir da predestinação. Os nossos pensamentos, cada um deles, não nos pertencem -- são inculcados dentro de nós a partir do dia em que nascemos. Vivemos sob a égide da herdade. Vamos pegando o bastão que nossos ascentrais nos deixam e passando adiante. É simples assim. Você pode dar a isso o nome de “cultura”. A cultura é inescapável. Mas pensar criticamente sobre essa nossa herdade, isso é possível. Para mim, é básico, hoje faz parte do meu sistema nervoso, do meu sangue.
Não me escondo atrás de “pensadores” para formar minha opinião. Minhas idéias se baseiam sobretudo na minha própria experiência. Olho o mundo em minha volta e analiso. Não cito autores que nunca li, como tem gente por aí que vive citando pensadores obscuros, demonstrando que não passam duns frívolos. Olho em volta no meu mundo e, quando está ao meu alcance intelectual, tiro minhas conclusões. Senão, sigo matutando. Maturando. Envelhecendo. Assimilando meu próprio desenvolvimento. Não uso fantasias. Nem desempenho papéis como se fosse personagem de novela. Acho graça quando vejo gente que faz plástica ou pinta os cabelos. Fazer isso é se negar a si mesmo. Cada uma das minhas rugas é prova de que estou vivo, de que sou um ser que evolui. Quem quer ficar com cara de bebê a vida inteira não passa disso, dum bebê.
É por isso que minha cabecinha é constituída principalmente de dúvidas. Só os tolos têm certeza absoluta de tudo. O mundo, putz, o mundo é milhões de vezes mais complexo, enigmático, obscuro do que essa divisão primária de esquerda / direita. Esse tipo de conceito existe porque 97,28% das pessoas têm essa necessidade insaciável de verdades definitivas. Crer em esquerda / direita não é uma concepção política, mas uma redução espantosamente elementar da realidade. Quem pensa o mundo em termos de esquerda / direita não vê o mundo como ele é, e sim como gostaria que fosse. Não passa dum delírio. Nesse sentido, assume dentro de nós a mesma função catártica que a religião. Esse tipo de pensamento binário nos remete de volta ao homem das cavernas. Quando vinha a tempestade, trazendo consigo seus terríveis raios e trovões, o carinha, estupefato, incapaz de compreender aquilo em sua magnitude, automaticamente creditou o fenômeno a seres incorpóreos, sem forma e sem rosto, aos quais deu o nome genérico de “deuses”. A partir daí, sempre que se via aterrorizado pelo ribombar horrendo, ele se lembrava de chamar os “deuses” e vupt! O milagre da redenção se fazia. Com a dualidade esquerda / direita é mais ou menos a mesma coisa. Quando se vê incapaz de compreender um acontecimento qualquer, carinha não pensa duas vezes -- tacha no bicho a pecha de esquerda ou direita e estamos conversados. É um processo puramente mecânico. Um processo que ocorre por si mesmo. Autônomo. Ocorre  sem que a vítima se aperceba. Mas, acima de tudo, é um processo confortável. Nos poupa do aborrecimento de ter de pensar. 98,71% dos seres humanos não gosta de pensar. Isso faz parte da distribuição natural dos papéis sociais. Mas já é outra história. Fica para outra ocasião.
E o mesmo processo reducionista ocorre quando carinha se vê diante de alguém sem ideologia política. Para carinha, alguém desse tipo é, mais que improvável, impossível. Carinha, sendo intolerante por natureza, não admite que existam pessoas que não se encaixem nos moldes tradicionais da cultura. Para o carinha de pensamento binário, quem não é esquerdista é direitista e vice-versa. A concepção dual não admite que possam existir outros tipos de concepções. É ela, a Concepção Dual, que manda no pedaço. Afinal, para que complicar, se podemos reduzir este nosso fantástico mundo e os miraculosos seres que o habitam a duas meras palavrinhas?
Vivemos sob a luz da mentira. Tudo bem, faz parte da nossa “natureza”. Mas me recuso a viver em estado de genuflexão.
Agora, não vá pensando que posto o que costumo postar sob o mesmo princípio da omissão que os cagões por aí usam para se omitir de tudo que vale a pena nas suas vidinhas de inseto. Ou seja, ESCREVO PARA NÃO ME OMITIR.
Sei, parece óbvio. Mas parece óbvio AGORA. Antes não parecia. Pelo menos não da forma como funciona o medo com que os cagões fazem ou deixam de fazer o que quer que seja. Inclusive, como dizia aquela minha tia que morreu de tanta Cibalena, responder ao que não entende ou não tem peito de confrontar cum debochezinho de neném.
Amém.

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