Memórias do cárcere químico XXII

Ninguém sabe — nem consegue — mentir mais — e melhor — que Lulla. 

O assunto parece batido — eu sei —, mas não é.

O mistério Lulla ainda está por ser desvendado.

É o estilo cabra-macho tão íntimo ao brasileiro médio e tão fascinante ao classe-média supostamente moderno e ligadão nas novas mídias e nas hodiernas tendências culturais. É a hostilidade — enganadora — do me-segura-senão-eu-pego-e-arrebento do general Figueiredo. É o physique-de-rôle do retirante sovado pelos elementos que finalmente venceu no Sul-Maravilha depois de sofrer por décadas a hostilidade e o preconceito dos supremacistas brancos em sua própria citadela. É um dos poucos — senão o único — políticos corajoso o bastante de, estando dentro do sistemão, olhar na cara da elite e, vestido dos paramentos da elite, tascar a verdade na cara da mesma elite. 

Mas o "aspecto" (hehehe, me permitam imitar um dos articulistas da Folha, que quando não sabe o que dizer diz aspecto, provavelmente para não dizer "coisa") que mais contribui para o êxito das mentiras de Lulla é o gogó afiado.

E esse é que não falta para o bom esquerdista. Com exceções. Guilherme Boulos tem papo macio mas é player relativamente novo. Manuela d'Ávila é player relativamente velha mas a velha natureza cansada de guerra não a agraciou com A Verve.

É o que tem mantido o próprio Lulla, mais Marina Silva, mais Cangaciro Gomes na parada de sucessos do DataFolha. 

Quem tiver a paciência de acompanhar uma boa entrevista com qualquer um desses três — e com qualquer outro componente dessa manada de progressistas nascidos para levar o povão na lábia — verá a proficiência e a capacidade com que emanam torrentes de frases e expressões bombásticas, insufladas de ar, e ao mesmo tempo de significado nulo e mensagem nenhuma, sendo Lulla o campeão dos campeões no quesito samba-enredo da Sapucaí.

Se possível fosse forçar um bom esquerdista a responder objetiva e sucintamente uma série de perguntas, desqualificando todas as respostas que não atendessem à exigência, o resultado seria um fulminante desastre. 

Cangaciro, em trinta segundos cravados, como salvar a economia e dar emprego a 20 milhões de indivíduos?

Melíflua maviosa Marina, que fazer para tirar tantos milhões de brasileiros atolados no Bolsa-Família?

Painho, como desmantelar o PCC, que se espalhou para todos os Estados da Federação?

Muito infelizmente, a mídia agora pugna para que Geraldo Alckmin se converta num novo Lulla e saia por aí esbanjando o carisma dum animador de auditório aliado às balelas dum mitômano.

O mesmo se começa a esperar de Bolsonaro, que, aparentemente, está passando por um intensivo de como falar direito e ganhar amigos.

Quando são exatamente a rudeza — e mesmo a grosseria —, a incultura, a falta dos vernizes da dissimulação, a impaciência com o lero-lero de entrevistadores que jogam para a arquibancada, a coragem de proferir enunciados brutais mas verdeiros que os distinguem do esquerdista bom de gogó mas ruim de soluções.

Ah!, mas haverão de questionar meus fiéis quase três leitores e meio, quer dizer então que Dilma escapa a essa sua análise do gogó afiado?

Quer dizer não, meu caros. Dilma Roussef não escapa a nada e escapa a tudo. Dilma não é isso nem aquilo. Dilma é um... trambolho inqualificável.

Um comentário:

  1. Amei infinitamente este mavioso texto! Se me permite uma única correção :A écs-presidentA não é um trambolho não senhor! Dilmá é uma trambolhA, entendeu? Acho que mais ajustado pra Dilmá, trambolhonA, que acha poeta Wil?

    ResponderExcluir